O “chanceler” que fala tupi

Roberto Garcia

 

Confesso, não sou bom suficiente. Não falo tupi-guarani. Devia. Dei prioridade errada. Embarquei na manada. Não de cabeça, é verdade. De leve. Estudei português, latim, grego, russo, alemão, inglês. Até arranhei japonês. Nada profundo, bastaram algumas aulas. Achei que se precisasse avançaria mais tarde. Não serviu para nada. O pouco que aprendi, esqueci.

Qual foi o meu choque, pouco mais de dois anos atrás. Ouvi o discurso de posse do itamarateco aloprado. Ele me humilhou. Ali, diante das câmeras, ele soltou umas sentenças em tupi. Com meus botões, descobri. Fiz tudo errado na vida. Enquanto esse rapaz promete, eu só caminho prá trás. Teria sido muito melhor aprender essa língua. Prá mim já é tarde demais. Ele aprendeu e foi longe.

E foi dito e feito. Quantos de vocês lembram, de chanceler da república? Um, o Amorim, dois, sei lá. Certamente lembram do ponta-esquerda do Guarani. Do goleiro do Santos. Do jogo épico do fla-flu. Das pernas da loira, nem se diga. Do topete invejável do rapaz de Hollywood. Mas diplomata? O que é isso? Prá que serve? Pode ter importância, não sei descrever. Ah, já sei. O barão do Rio Branco. Esse sim. Estava na nota. Não sei se do cruzeiro ou do real.

Morram de inveja os amigos. Tem um que se destacou. Estrela de primeira grandeza. Brilha aqui, na OEA, em Lima, na ONU, até no Eliseu. Tem aliados no mundo. É comentado. Citado como exemplar. O Brasil andava ofuscado. Agora não mais. Eduardo nos levou à notoriedade intercontinental. Mais que isso só a igreja universal.

Mas este mundo é injusto. Estão a criticar. Nem os indígenas reconhecem. Ele aprendeu a língua deles. Até soltou umas frases. Não sei se sabe o suficiente para negociar um novo tratado. Que assegure que índio se ajuda, mas se deixe em paz. Nada de penetrar nas terras deles. Ou de mudar a cultura. Não nascem em pecado. Vivem com a natureza. Nem pense em salvar a alma deles.. Deixe-os lá com suas crenças ou ausência delas. Calcule, daqui a pouco eles terão que pagar dízimo, prá igreja universal. Inclua esse item aí. Não deve, não pode. Mas pensando bem, nossos índios não merecem. Nem tratado dessa gente. Vamos deixá-los quietos, que eles têm o que fazer.

O chanceler fez um bom trabalho. Agora merece descansar. Timbuctu prá ele. Lá tem ar bom e limpo, prá ele respirar. As outras capitais se ajeitam. Vão sofrer pra se adaptar. Mesmo sem o brilho desse gênio. Não precisa perder o sono, deixe que eles se viram. Já os que serviram o rapaz, com devoção exemplar, também vão encontrar lugar. Na vida privada, que eles tanto elogiam. Tem muito carro de pipoca, precisam de bom empreendedor. Vão demonstrar capacidade e isso eles tem de sobra. Liberdade, para eles, sem amarras. Na falta disso, tem uma base lá na Antártida. Pra negociar com pinguim.

O certo é que Eduardo, esse não dá prá aguentar. Se deixar ainda traz o estado islâmico, não tem amizade melhor. Ou tirem logo esse rapaz. Antes que a coisa piore. Tirem também o Jair. O Salles vai de lambuja. A Damares vai de graça. Guedes tem prá onde ir. Ah, tive uma idéia. Que tal mandar todos pro espaço, com o nosso astronauta, em foguete de primeira classe?

 

Roberto Garcia é jornalista.

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