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A pátria dos mascarados

Sonia Castro Lopes

 

Teatrinho  de quinta. Na última sexta feira (26), obedecendo às ordens do capitão, o ministro da ciência, tecnologia e inovação, o astronauta Marcos Pontes – que até hoje não disse a que veio – juntamente com o recém-empossado ministro da saúde, Marcelo Queiroga, improvisaram um pronunciamento para enrolar o povo que ainda dá crédito a esse desgoverno.

 

Ungidos de uma autoridade que não possuem, os dois tentaram convencer a galera de que o governo está se empenhando em debelar a maior crise sanitária de todos os tempos. Até Zé Gotinha, utilizado para dar credibilidade ao evento, demonstrou visível constrangimento. Sabia que estava mal na fita.

 

Na verdade, o objetivo da farsa era minimizar a visibilidade política do governador João Dória (PSDB-SP), que pouco antes havia anunciado em rede nacional a vacina ButanVac,  produzida pelo Instituto Butantan de São Paulo.

 

Sentindo-se ameaçado, o capitão ordenou aos seus asseclas que fizessem um pronunciamento anunciando à imprensa o registro junto à Anvisa do pedido de autorização para a produção de outra vacina, a Versamune, financiada  pelo governo federal e desenvolvida pela USP de Ribeirão Preto.

 

Evocando a ‘pátria de chuteiras’, expressão cunhada pelo genial Nelson Rodrigues (título de um de seus livros) para descrever a união e o entusiasmo dos brasileiros em torno da copa do mundo, Queiroga propôs o lançamento do slogan ‘pátria de máscaras.’ Para quem representa um governo negacionista que até bem pouco tempo chamava de ‘maricas’   quem usava máscara e pregava o isolamento, será que estamos progredindo?

 

O ministro discorreu sobre a importância de vacinar toda a população brasileira e admitiu que a quantidade de vacinação ainda não é a ideal, mas salientou que o Brasil, em números absolutos é “o quinto país que mais vacina no mundo.” Ora, dizer isso para uma população desinformada é pura demagogia.

 

Em termos relativos essa falácia cai por terra. Qual a porcentagem de brasileiros efetivamente vacinados até agora? Pelo mapa de vacinação da covid no Brasil (atualizado até o dia 26/3), um total de 14.883.220 pessoas recebeu a primeira dose sendo que apenas 4.640.586 receberam a segunda. O que esses números representam em relação à população do país?  Pouco mais de 7% no primeiro caso e 2,19% no segundo.

 

Da forma como foi anunciada pelo ministro – vacinação em termos absolutos – a estatística é um prato feito para os apoiadores do ‘mito’ espalharem em suas redes que o Brasil está entre os países que mais vacinam seus habitantes. Realmente, estamos diante da pátria dos mascarados.

 

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