Do O Globo
Cantor de 82 anos diz que “perdeu o controle” da emoção nas filmagens e fala sobre vida sexual ativa e do trauma de mentiras
Ney Matogrosso esteve três vezes no set de filmagem de “Homem com H”, cinebiografia sobre sua vida, que acabou de ser rodada no Rio de Janeiro, sob direção de Esmir Filho. O cantor de 82 anos contou ao GLOBO suas impressões sobre o que viu:
“Foi muito interessante ver as pessoas reproduzindo a minha vida, embora eu ache que não dá para contar a vida de alguém exatamente como foi em uma hora e meia. São aspectos da minha, um ponto de vista.” observa “Claro que estranho, porque há liberdades. E eu aceito as liberdades das pessoas. O que eu precisei fazer para ajudar, eu fiz”.
O artista teve alguns encontros com o ator Jesuíta Barbosa, que o interpreta na tela.
– Ele veio à minha casa a gente ficou conversando fiado, largado aqui no chão. Eu percebi que ele estava me estudando, olhava o jeito como eu sentava, falava, andava. Isso não me incomodou. Poderia ter me incomodado, mas não. Ele também foi ver um show meu em Fortaleza, e me falaram: ‘Ele está te observando”. Estava mesmo. É isso que um ator faz.
Ney destacou a escolha dos atores que fazem os papéis de Cazuza (Jullio Reis) um de seus grandes amores, e de Marco de Maria (Bruno Montaleone), seu último companheiro e o único com quem conviveu na mesma casa por 13 anos. Marco morreu de Aids nos braços de Ney.
“O Jesuíta parece comigo, o Cazuza parece o Cazuza, o Marco é igual ao Marcos e meu pai também é muito parecido” diz ele.
Conhecido por ser uma pessoa que não se emociona facilmente (“quase nunca choro”, conta) – talvez fruto da educação dura de seu pai, o sargento da aeronáutica Antonio Matogrosso – Ney revela que não conseguiu se conter em uma determinada cena a que assistiu:
– Era eu chegando na minha casa com o Marco, que já estava doente. Eu dizia a ele que não entendia porquê meu exame de DNA tinha dado negativo. Então, ele me perguntava se eu ia ficar com ele mesmo “magro, feio, com cabelo caindo, manchas pelo corpo, feio, magro”. Eu respondia: “Claro”. Os atores foram tão convincentes que tive uma coisa assim… Eu perdi o controle. Não é que comecei a chorar, as lágrimas pulavam do meu olho e eu não tinha controle sobre aquilo. Fiquei com muita vergonha.
Vergonha, no entanto, pode parecer uma palavra distante no vocabulário de Ney se a gente pensar na franqueza dele em falar sobre qualquer assunto. Não há tema proibido com o cantor, que não se furta a comentar absolutamente nada da sua biografia. Desde que, ele alerta, seja verdade. Ney carrega trauma de mentiras contadas sobre a própria vida.
“Foram muitas. Algumas inacreditáveis. Já disseram que minha voz era fina porque tinha sido castrado em um acidente.”
Ele também lembrou as loucuras do início de carreira, nos anos 1970:
“Eu vivia na esbórnia, na mão de quem chegasse primeiro, homem, mulher… Adorava aquilo.”
Naquela época, também começou a desenvolver uma relação quase sexual com a plateia – que, aliás, mantém até hoje.
“Eu olhava aquela gente do palco e tinha vontade de transar com todo mundo.”
Uma libido que continua tinindo até hoje, aos 82.
“Tenho vida sexual ativa e fico feliz de, quando estou no palco, fazer as pessoas de mais idade reconhecerem que a sexualidade ainda faz parte da vida delas. Esse é o normal. É que as pessoas botaram na cabeça que, com essa idade, não pode. Pode, sim! – afirma aquele, que em 2021, teve um nude vazado por acidente. – Era para um lugar e foi para outro. Simples assim.