Acertada a decisão do presidente Lula de retirar o embaixador brasileiro em Israel

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Por Simão Zygband

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Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

Acertada a decisão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de retirar o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, e o nomear como representante do Brasil na Conferência de Desarmamento da ONU em Genebra. Não tinha como não demonstrar que o assassino Benjamin Netanyahu tinha ultrapassado todos os limites do aceitável. Já não era de hoje e nem a primeira vez. Mas o ataque israelense a um campo de refugiados palestinos em Rafah, na Faixa de Gaza, que deixou 45 mortos, inclusive com extrema crueldade, torna indiscutível qualquer outra decisão.

A retirada do embaixador foi publicada nesta quarta-feira (29) no Diário Oficial da União. O presidente Lula não indicou ninguém para ocupar o cargo em Tel-Aviv e nem há previsão de quando o fará. Este é considerado o gesto diplomático mais duro do governo brasileiro em resposta aos ataques israelenses desde o início da guerra contra o Hamas. A relação entre os dois países está estremecida desde fevereiro. Na ocasião, o presidente Lula foi considerado “persona non grata” pelo governo de Benjamin Netanyahu por ter associado os ataques a civis na Faixa de Gaza ao genocídio de judeus promovido pelo nazismo. Ao mesmo tempo, Meyer foi chamado pelo ministro das Relações Exteriores israelense, foi repreendido e cobrado a se desculpar em nome do governo brasileiro, o que nunca ocorreu.

Isso não significa dizer que o estado de Israel deva desaparecer do mapa e que todos os judeus sejam dizimados, como desejam as lideranças extremistas dos palestinos, hoje representados desafortunadamente pelo Hamas.

Assim como a de Netanyahu, o promotor do Tribunal Penal Internacional, Karim Khan, pediu a prisão dos três líderes do Hamas, por supostos crimes de guerra e contra a humanidade.

Como sempre disse, trata-se dos dois lados podres, extremistas e de direita da mesma moeda, joguetes nas mãos dos vendedores de armamentos, aliás, os verdadeiros assassinos das criancinhas judias e palestinas.

Aproveito para trazer a reflexão partes do texto da jornalista espanhola, Pilar Rahola, intitulado “Um Vestido Novo Para Um Ódio Antigo”, que achei interessante e que circula pela internet.

“Segunda-feira à noite, em Barcelona. No restaurante, uma centena de advogados e juizes. Eles se encontraram para ouvir minhas opiniões sobre o conflito do Oriente Médio. Eles sabem que eu sou um barco heterodoxo, no naufrágio do pensamento único, que reina em meu país, sobre Israel. Eles querem me escutar. Alguém razoável como eu, dizem, por que se arrisca a perder a credibilidade, defendendo os maus, os culpados? Eu lhes falo que a verdade é um espelho quebrado, e que todos nós temos algum fragmento. E eu provoco sua reação: “todos vocês se sentem especialistas em política internacional, quando se fala de Israel, mas na realidade não sabem nada. Será que se atreveriam a falar do conflito de Ruanda, da Caxemira, da Chechenia?”.

Não. São juristas, sua área de atuação não é a geopolítica. Mas com Israel se atrevem a dar opiniões. Todo mundo se atreve. Por quê? Porque Israel está sob a lupa midiática permanente e sua imagem distorcida contamina os cérebros do mundo. E, porque faz parte da coisa politicamente correta, porque parece solidariedade humana, porque é grátis falar contra Israel. E, deste modo, pessoas cultas, quando lêem sobre Israel estão dispostas a acreditar que os judeus têm seis braços, como na Idade Média, elas acreditavam em todo tipo de barbaridades. Sobre os judeus do passado e os israelenses de hoje, vale tudo.

A primeira pergunta é, portanto, por que tanta gente inteligente, quando fala sobre Israel, se torna idiota. O problema que temos, nós que não demonizamos Israel, é que não existe debate sobre o conflito, existe rótulo; não se troca ideias, adere-se a slogans; não desfrutamos de informações sérias, nós sofremos de jornalismo tipo hambúrguer, fast food, cheio de preconceitos, propaganda e simplismo.

O pensamento intelectual e o jornalismo internacional renunciaram a Israel. Não existem. É por isso que, quando se tenta ir mais além do pensamento único, passa-se a ser o suspeito, o não solidário e o reacionário, e o imediatamente segregado. Por quê? Eu tento responder a esta pergunta há anos: por quê? Por que de todos os conflitos do mundo, só este interessa? Por que se criminaliza um pequeno país, que luta por sua sobrevivência? Por que triunfa a mentira e a manipulação informativa, com tanta facilidade? Por que tudo é reduzido a uma simples massa de imperialistas assassinos? Por que as razões de Israel nunca existem? Por que as culpas palestinas nunca existem? Por que Arafat é um herói e Sharon um monstro? Em definitivo, por que, sendo o único país do mundo ameaçado com a destruição é o único que ninguém considera como vítima?

Eu não acredito que exista uma única resposta a estas perguntas. Da mesma forma que é impossível explicar a maldade histórica do antissemitismo completamente, também não é possível explicar a imbecilidade atual do preconceito anti-Israel. Ambos bebem das fontes da intolerância, da mentira e do preconceito. Se, além disso, nós aceitarmos que ser anti-Israel é a nova forma de ser antissemita, concluímos que mudaram as circunstâncias, mas se mantiveram intactos os mitos mais profundos, tanto do antissemitismo cristão medieval, como do antissemitismo político moderno. E esses mitos desembocam no que se fala sobre Israel. Por exemplo, o judeu medieval que matava as crianças cristãs para beber seu sangue, se conecta diretamente com o judeu israelense que mata as crianças palestinas para ficar com suas terras. Sempre são crianças inocentes e judeus de intenções obscuras.

Por exemplo, a ideia de que os banqueiros judeus queriam dominar o mundo através dos bancos europeus, de acordo com o mito dos Protocolos (dos Sábios de Sião), conecta-se diretamente com a ideia de que os judeus de Wall Street dominam o mundo através da Casa Branca. O domínio da imprensa, o domínio das finanças, a conspiração universal, tudo aquilo que se configurou no ódio histórico aos judeus, desemboca hoje no ódio aos israelenses. No subconsciente, portanto, fala o DNA antissemita ocidental, que cria um eficaz caldo de cultura. Mas, o que fala o consciente? Por que hoje surge com tanta virulência uma intolerância renovada, agora centrada, não no povo judeu, mas no estado judeu? Do meu ponto de vista, há motivos históricos e geopolíticos, entre eles o sangrento papel soviético durante décadas, os interesses árabes, o antiamericanismo europeu, a dependência energética do Ocidente e o crescente fenômeno islâmico”.

Para se pensar……

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Simão Zygband é jornalista, com ascendência judaica, editor do site Construir Resistência, com passagens por jornais, TVs e assessorias de imprensa públicas e privadas.

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