Por Hugo Souza – Come Ananás
“Só vou dizer o seguinte: a vida dá volta, e é a tua vida que está em risco. Que Deus tenha misericórdia de você”, disse a pastora senadora Damares Alves ao hacker Walter Delgatti Neto.
A sessão da CPMI que teve a oitiva do hacker Walter Delgatti Neto começou com uma oração pela vida, pelo aniversário do presidente da comissão, deputado Arthur Maia (União-BA). O pastor e deputado Marco Feliciano (PL-SP) fez as honras: “Senhor, levante uma muralha de fogo ao redor dele e o torne invisível aos olhos de toda seta maligna. Em nome de Jesus nós te abençoamos. Amém”.
A sessão desta quinta da CPMI que começou com uma oração terminou com um sermão dado por outro pastor deputado, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ):
“Vou me dirigir à minha irmã em Cristo, relatora desta comissão, Eliziane Gama. Irmã Eliziane, Vossa Excelência representa muito bem o estado do Maranhão, eleita com votos de muitos irmãos em Cristo da nossa Igreja. Irmã Eliziane, Vossa Excelência acreditou em alguma das falas deste senhor pela manhã? Te pergunto diante do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Como eu confio fielmente na consciência cristã que existe dentro dessa mente, dentro desse coração, de uma assembleiana do Maranhão, eu tenho convicção de que Vossa Excelência não acreditou no mentiroso contumaz que nós vimos aqui nesta manhã. Minha ilustre relatora: que Deus te abençoe, que te ilumine e que o seu relatório seja justo, porque, quando dobrar e deitar sua cabeça no travesseiro, a irmã vai ter a consciência, diante de Deus e dos homens, de que fez um trabalho sincero nesta CMPI”.l
Entre a oração de Marco Feliciano e o sermão de Sóstenes Cavalcante, Feliciano voltou ao microfone para dizer a Delgatti que “se a justiça da terra não lhe fizer aquilo que tem que ser feito, a justiça divina fará” e que “quem o assessora deve tomar cuidado”. Um(a) terceiro(a) pastor(a) parlamentar, a senadora Damares Alves (Republicanos-DF), pareceu ameaçar Walter Delgatti com a justiça da milícia: “Só vou dizer o seguinte: a vida dá volta, e é a tua vida que está em risco. Que Deus tenha misericórdia de você”.
A fala com cara de ameaça, jeito de ameaça, palavras de ameaça feita pela sacerdotisa levou o deputado Rogério Correia (PT-MG) a pedir a inclusão do hacker, que está preso, no programa de proteção à testemunha e que “a Polícia Federal tenha muito cuidado com o que vai acontecer na prisão neste momento. A gente sabe que existe um negócio chamado apito de cachorro. Só o cachorro escuta”.
Toda esta, digamos, liturgia de homens e mulheres de Deus na sessão desta quinta da CPMI do 8/1 faz lembrar o relato do jornalista Antonio Carlos Fon, preso e torturado nos xadrezes da Operação Bandeirantes, sobre o pastor batista e capitão do Exército Roberto Pontuschka, em seu livro “Tortura: a história da repressão política no Brasil”:
“Durante o dia, torturava-nos; à noite, descia aos xadrezes para distribuir bíblias e tentar salvar nossas almas. Uma noite, procuramos conversar com ele, pedindo-lhe que explicasse como podia um homem tão religioso torturar seus semelhantes. ‘Eu trago a palavra de Deus’, ele explicou, ‘mas, para quem se recusa a ouvi-la, eu uso esta outra linguagem’, disse, apontando para a pistola calibre 45 que trazia na cintura