Por Luiz Eduardo Rezende
Depois de um início promissor, a candidatura do ex-ministro Sérgio Moro arrefeceu e caiu no marasmo dos outros presidenciáveis que tentam representar uma terceira via nas eleições do ano que vem.
Moro, em vez de crescer e se aproximar dos números de Bolsonaro nas pesquisas, caiu e está praticamente empatado com Ciro Gomes em torno dos cinco por cento das intenções de votos.
Isso significa que, pelo menos por enquanto, não há espaço para alguém ameaçar a polarização entre o ex-presidente Lula, favoritíssimo até agora, e o presidente Bolsonaro, que devem disputar o segundo turno, isso se Lula não decidir tudo no primeiro.
Moro tem como objetivo tirar votos de Bolsonaro para disputar o segundo turno com Lula. Mas isso não está acontecendo. O presidente conserva um eleitorado cativo, fiel apesar de todas as barbaridades que ele vem fazendo no governo.
O fantasma de Moro deixou de assustar os bolsonaristas do Planalto, mas agora o que apavora é a possibilidade de Lula vencer no primeiro turno. O auxílio emergencial é a bala de prata, a única chance de Bolsonaro reverter esse quadro que lhe é altamente desfavorável.
Se isso não acontecer, a partir de março ou abril certamente será abandonado pelo pessoal do Centrão, que não joga para perder, ficará totalmente isolado e nem o contínuo do palácio vai servir cafezinho quando ele pedir.
DEU CHABU
Muita pose, muita arrogância, muita agressividade e pouco voto. Assim pode ser classificada, mais uma vez, a candidatura do ex-ministro Ciro Gomes a presidente da República. Inicialmente apontado como o nome mais forte da terceira via, Ciro jamais conseguiu chegar aos dois dígitos nas pesquisas e agora patina por volta dos cinco por cento, em quarto lugar, um pouco atrás de Sérgio Moro e um pouquinho à frente de João Dória.
Nos estados e também no congresso os pedetistas já pedem a renúncia de Ciro e defendem, como forma de sobrevivência eleitoral, que o partido se integre à grande aliança que está se formando em torno do ex-presidente Lula.
Querem que o PDT participe de uma federação partidária porque, concorrendo sozinho, pode cair na cláusula de barreira e perder dinheiro do fundo partidário e tempo de televisão.
Mas o Coronel de Sobral está irredutível. Tudo indica que o resultado vai ser “jogamos como nunca, perdemos como sempre”.
SÓ FALTAVA ELE
O único integrante da família Bolsonaro que ainda não respondia a processo por corrupção era o filho mais novo, Renan, aquele mesmo que o papai presidente disse que pegava todas as moças do condomínio onde mora, na Barra da Tijuca, vizinho do miliciano que está preso pelo assassinato da vereadora Marielle Franco.
Pois agora não falta ninguém. Renan foi convocado pela Polícia Federal para prestar depoimento, acusado de tráfico de influência para favorecer empresários em negócio com o governo, em troca de propina.
Renan então se junta ao pai e aos três irmãos mais velhos que respondem a algum tipo de processo, seja por corrupção, seja por divulgar notícias falsas, seja por atentado à democracia e ao estado de direito no país.
A família que tomou o poder no Brasil, após a eleição do papai Bolsonaro faz o que quer, acreditando que ninguém será punido. Uma desmoralização para a justiça brasileira.
E AGORA STF?
A Polícia Federal enviou ao Supremo Tribunal Federal o inquérito provando a participação direta do presidente Jair Bolsonaro na divulgação de notícias falsas visando desmoralizar o processo eletrônico de votação adotado do Brasil.
Não se trata mais de uma simples acusação e, sim, do resultado de uma investigação feita por determinação do Supremo.
Não se sabe ainda quais serão os próximos passos no STF. Bolsonaro hoje tem dois ministros fiéis a ele, Nunes Marques e André Mendonça, capazes de impedir o andamento de processos, com pedidos de vista e outros recursos regimentais. Isso se os outros estiverem dispostos a levar o presidente a julgamento.
Bolsonaro cometeu um crime, segundo a PF. Mesmo que os ministros do STF considerem que foi um crime eleitoral ele deveria ser declarado inelegível pelos próximos oito anos. Mas será que o nosso judiciário terá coragem de punir o chefe de um outro poder?
Quem viver verá!
NEGOCIAÇÃO COMPLICADA
Não será tranquila como os interlocutores estão querendo aparentar a conversa entre o ex-presidente Lula, o prefeito Eduardo Paes e o presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, André Ceciliano, para a formação de uma frente capaz de derrotar o bolsonarismo nas eleições para o governo do estado.
Lula precisa de um palanque forte no berço do bolsonarismo e já tinha se comprometido com a candidatura Marcelo Freixo, do PSB. Mas a maior liderança no estado hoje é, sem dúvida, Eduardo Paes, do PSD, que não está nada disposto a apoiar Freixo, já que os dois não se bicam de jeito nenhum.
Paes vai tentar convencer Lula a apoiar seu candidato, o presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, o que significaria Lula abandonar Freixo no meio da estrada, sobrando para o deputado do PSB disputar a eleição para o senado.
Como isso dificilmente acontecerá, pois Lula não vai querer ficar mal com a esquerda, se Eduardo Paes não ceder é possível que Santa Cruz e Freixo disputem a eleição, ou seja, os mesmos eleitores, o que beneficiará o governador bolsonarista Cláudio Castro, candidato à reeleição.
Há uma frase atribuída por Nélson Rodrigues ao escritor Otto Lara Rezende dizendo que mineiro só é solidário no câncer. Pois bem, nem no câncer a esquerda consegue ser solidária.
LOBO EM PELE DE CORDEIRO
O general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, disse que tem tomado Rivotril todo dia para impedir que o presidente Jair Bolsonaro cometa excessos, principalmente quando fala, e coloque em risco o bom entendimento entre os poderes e consequentemente a democracia no Brasil.
Será que alguém acredita nisso? General Heleno, ex-fiel escudeiro de Sílvio Frota, ministro do Exército ferrabrás e golpista, que tentou derrubar Geisel do poder, agora é bombeiro, um democrata de carteirinha.
Encastelado no Palácio do Planalto, acusado de favorecer garimpeiros ilegais na Amazônia, Augusto Heleno tem, ou pelo menos tinha, intenção de disputar um cargo eletivo. Andou dizendo que desistiu por causa da baixa popularidade de Bolsonaro, de quem é conselheiro, na medida em que ambos tem o mesmo DNA de golpismo.
Mas seguro morreu de velho e é melhor continuar se fingindo de democrata. Ah, general Heleno, quem não te conhece que te compre.
FOTOS
Sérgio Moro: candidatura fogo de palha
Renan Bolsonaro: agora todos os filhos do presidente respondem a processo (Joédson Alves/ Agência Efe)
Eduardo Paes: negociações complicadas para a sucessão no governo do estado (Reprodução)
General Heleno: DNA do golpismo (Agência Brasil)
Luiz Eduardo Rezende é jornalista com passagem por grandes jornais do Rio de Janeiro, como O Globo e O Dia. Matéria originalmente publicada no Quarentena News.