Por Sonia Castro Lopes
Na última terça feira (8) recomendamos a leitura da entrevista feita pelo jornalista Laercio Portela com o professor Marcos Nobre, do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. A matéria intitulada Bolsonaro é um candidato fortíssimo e as instituições estão em colapso é polêmica e provocativa. Publicada no Portal Marco Zero, teve grande repercussão e suscitou reflexões de vários jornalistas e leitores do portal Construir Resistência. Seguem abaixo, alguns comentários:
“Acredito ser prudente ouvir o Marcos Nobre. Como entrevista, é excelente. Laércio Portela conseguiu ótimas respostas com perguntas acuradas. Como análise, torna-se uma entrevista mentora, pois sempre é mais aconselhável trabalhar com um cenário não favorável a viver de lenda: pensar sempre com realidade. Sobre a necessidade de um ‘arco democrático’, avalio que o filósofo e cientista social Marcos Nobre está certíssimo. E ele mesmo disse que Lula, como político experimentado, sabe disso e que este é o paradoxo lulista: ter de buscar mais apoio à direita. ‘Arco democrático’ é um termo que Raymundo Faoro preferia ao ‘frente ampla’. ‘Arco democrático’ é expressão inclusiva e sugere pontos de convergência naquilo que importa.” (Maria Fernanda Guimarães, jornalista)
“Li pacientemente a entrevista do Marcos Nobre e fiquei achando que não temos saída. Ou que a saída é Ciro Gomes. O importante é desgastar a imagem desse maldito [Bolsonaro]. Não só dele. Do Doria e do Moro também. Acho que o Huck não abre mão da fortuna que a Globo vai lhe pagar pra substituir o Faustão. E tem o Mandetta, que pode crescer: é bem articulado, tem cara boa e estava indo bem no combate à pandemia até ser demitido pelo Bozo. Desmontá-lo é mais difícil.” (Nelson Marques – jornalista e produtor)
“Li também e me pareceu que ele prefere falar das possibilidades de Bolsonaro do que de Lula. Além disso, que história é essa de que as manifestações do dia 29 afastaram a direita não bolsonarista, pelo fato de o povo se declarar de esquerda? Pelo que eu sei, quem foi às ruas foi a esquerda.” (Washington Araújo – jornalista e editor do blog Bem Blogado)
“Tendo a concordar com a análise de Fernanda e com Marcos Nobre quando diz que Bolsonaro não está ‘nas cordas’ como muita gente pensa. Chegando vacina, aumentando o auxílio e melhorando a economia sua popularidade vai subir, não tenham dúvida. Mas é preciso ampliar as alianças. Expurgar possíveis aliados não vai ajudar. Lula sabe disso e está no caminho certo. Não podemos subestimar o adversário.” (Sonia Castro Lopes – professora da UFRJ)
“Obviamente Marcos Nobre deixou vazar sua verve ‘cirista’. Incrível como a síndrome dos 6% causa alucinações grandiloquentes. O jogo não está ganho, mas a direita e Ciro estão fora do páreo. Jereissati já disse que só se candidataria se Ciro não disputasse. Ou seja, a direita ‘tá de bico’. Vai ser Lula e Bozo, se não inventarem moda ate lá.” (Níobe Cunha, jornalista e produtora dos programas Dedo de Moça e Jogo de Damas)
“Marcos Nobre fala que o momento é de risco. Vou além, acho arriscadíssimo. Nunca vivemos tanto perigo desde 1985. Os acontecimentos de Fortaleza, os atos antidemocráticos e, depois, Recife, Goiânia, a força política das milícias, a zombaria com o estado laico, a invasão de terras indígenas por garimpeiros numa joint-venture do mal ouro-drogas-biopirataria-madeira-, o desmatamento sem freios, o perdão a Pazuello, a capitulação do Exército — e onde andam as outras Forças Armadas? —, o desprezo para com a miséria que se alastra, com a quebradeira geral, o descaso com a economia… são todos sinais de alarme.” (Maria Fernanda Guimarães, jornalista)
“Concordo que temos de ampliar o ‘arco democrático’, desde que em torno do nosso candidato, Lula. Arco democrático para apoiar outro candidato – Ciro, Doria, Mandetta – não nos interessa. Entre Doria e Bozo num improvável e desgraçado segundo turno, eu ia pra Havana tomar rum e fumar charutos pra esquecer esse desastre…” (Nelson Marques, jornalista e produtor)
“Acredito que os setores progressistas têm que superar as diferenças nesse momento. Lula já demonstrou seu protagonismo e as pesquisas indicam seu favoritismo, mas não podemos prescindir do apoio dos demais.” (Sonia Castro Lopes – professora da UFRJ)
“Como lembra Marcos Nobre, as articulações políticas no Brasil estão atrasadíssimas para uma eleição de 2022. Todo mundo sabe que Bolsonaro tem 15% de devotos. E mais 10%, pouco mais ou menos, do que poderiam ser torcedores. A maioria dos eleitores é conservadora. O Brasil é conservador. E a gente precisa trabalhar com essa realidade, o que o Marcos Nobre chama olhar fora da “bolha anti-bolsonarista.” Quem anda pelo interior vai encontrar uma maioria de gente conservadora. Conservadora nos costumes, esclareço.” (Maria Fernanda Guimarães, jornalista)
“Acho discutível dizer que o Brasil é conservador. Em oito eleições presidenciais pós ditadura, a esquerda – com Lula e Dilma – levou quatro. E em duas, FHC ganhou. Não gosto do FHC, mas não dá pra dizer que ele é um conservador típico. E em todas essas eleições, o PT sempre esteve entre os dois candidatos mais votados, não é mesmo?” (Nelson Marques, jornalista e produtor)
“A vacinação vai ampliar sim. As vacinas estão chegando, apesar do presidente. Mas Bolsonaro vai se aproveitar das vacinas e do auxílio emergencial que tudo indica será ampliado. E a especialidade dele é torcer narrativas. E cooptar ressentidos, claro. Contar com uma condição destrutiva que surja na CPI da Pandemia seria um fator imenso de apoio às forças progressistas e talvez neutralizasse o discurso bolsonarista no pós-vacinação. Mas faço uma pergunta: vocês acham os senadores de esquerda na CPI eficientes ou dedicados? Contamos três ou quatro.” (Maria Fernanda Guimarães, jornalista)
“Esta história de dizer que o povo vacinado vai contribuir para o voto em Bolsonaro é a ver. Ele terá um prontuário de mortes nas costas. Povo vacinado, mas de luto por muitas mortes ocasionadas por ele. A questão da economia é outro chute. PIB reagindo e enchendo o bolso só do rico. Muita água vai rolar. Boaventura Sousa Santos diz que sociólogo só é bom para fazer ‘previsão’ do passado.” (Washington Araújo – jornalista e editor do blog Bem Blogado)
“Em resumo, acho bom ler o filósofo-cientista-social. Não vejo prudência em desqualificar a análise de Marcos Nobre, um pensador progressista. As instituições estão sim em colapso, Bolsonaro é sim um candidato forte e nossa democracia está sim em grave perigo. Todas as forças serão necessárias para impedir o pior.” (Maria Fernanda Guimarães, jornalista)
“Nunca devemos subestimar os fascistas. Eles se articulam contra a esquerda, inclusive em torno de Bolsonaro. Mas não gostei do texto do Marcos Nobre. Acho descontextualizado. As vitórias da esquerda na Argentina, Chile, Peru e as derrotas de Trump e de Nethanyahu não são irrelevantes. De onde Bolsonaro vai submergir? Os pobres sentem o golpe da crise econômica aguda e até os evangélicos abandonam Bolsonaro. O viés do professor me parece um pouco anti-lulista. A direita tenta eleger novos quadros como a infectologista Luana Araújo. Eles são perigosos e nunca estão mortos, mas há chances sim da onda lulista ser incontrolável.” (Simão Zigband, jornalista e um dos editores do portal Construir Resistência)
E você, já leu a matéria?
“Bolsonaro é um candidato fortíssimo e as instituições estão em colapso”, alerta Marcos Nobre
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Concordo que temos de ampliar o ‘arco democrático’, desde que em torno do nosso candidato, Lula. Arco democrático para apoiar outro candidato – Ciro, Doria, Mandetta – não nos interessa. Entre Doria e Bozo num improvável e desgraçado segundo turno, eu ia pra Havana tomar rum e fumar charutos pra esquecer esse desastre…” (Nelson Marques, jornalista e produtor)
Me atrevo aqui a comentar a consideração acima: fico muito decepcionada, quando me dou conta que, apesar de toda a corda bamba em que vivemos, encontramos afirmações do tipo – “…….desde que em torno do nosso candidato, Lula. Arco democrático para apoiar outro candidato, não nos interessa”. Me pergunto: não interessa a quem, cara pálida? Tenhamos um pouco de humildade, coloquemos nossos projetos políticos partidários um pouco de lado e vamos pensar no Brasil, no atraso, na calamidade e na barbárie mais aprofundada que nos meteremos, caso Bolsonaro vença em 2022.
Meu pitaco sobre tudo que estou vendo: pelo meu balanço, minhas apostas são de que Bolsonaro não precisará dos militares caso perca as eleições em 2022. Basta ficarem quietos como já estão e deixarem ele, sua milícia e a polícia irem para as ruas com sua truculência já bastante conhecida acabar com a democracia. Os sinais estão já muito explícitos, só não vê quem não quer o caminho que ele está traçando. Recomendo livro ou entrevista do professor João Cezar de Castro Rocha, para tomarmos consciência do que Bolsonaro está armando. Acorda Nelson Marques!!!
Pois é, Miriam, também acho. O próprio Lula, político experiente que é, caminha na direção de uma frente ampliada com outros partidos.