Cinema indiano, uma grata surpresa

Por Beatriz Herkenhoff

Os filmes indianos faziam parte de um universo até então pouco explorado por nós. Eles abordam com leveza e sensibilidade temas controversos, densos, tensos. Possibilitando momentos gratificantes, com coreografias belíssimas

Bollywood é responsável pela realização dos filmes indianos de grandes orçamentos, assim como um dos maiores centros de produção cinematográfica do planeta. Produz muitos musicais, com temas sociais e políticos. Filmes que retratam a cultura indiana com seus detalhes e tradições, os valores e religiosidade de um povo, as lutas e conquistas, a pobreza, a desigualdades, a opressão entre as classes e castas, entre outros temas.

Na Índia surgiu também o Cinema Paralelo. Movimento conhecido pelas temáticas sociopolíticas, buscando o realismo e a rejeição das populares sequências musicais tão comuns no cinema indiano.

Destaco alguns filmes indianos que assisti e recomendo:

Carta ao primeiro ministro (2019): desnuda a pobreza, a desigualdade, as contradições entre as classes, a burocracia pública e a precariedade sanitária na periferia de Mumbai, Índia. Denuncia um fato que é muito comum na Índia: a falta de banheiro em algumas regiões. O que leva as mulheres a se reunirem em grupo para fazer suas necessidades ao ar livre, sujeitas a abuso sexual.

A originalidade do filme é o movimento, liderado por crianças, para que sejam construídos banheiros na comunidade. O filme mostra a resiliência, a criatividade, a garra das crianças. É crítico e ao mesmo tempo intenso em afetividade e coragem.

Dhanak (2016): musical que toca pela sensibilidade, delicadeza, cumplicidade entre dois irmãos. Diálogos densos com excelentes atores mirins.

Somos envolvidos na jornada de uma menina e seu irmão cego para conseguir uma cirurgia que o cure. Uma linda lição de amor, cumplicidade, confiança, garra e solidariedade.

Legaan, a coragem de um povo (2001): drama musical com duração de 3h45m. História de força, coragem, determinação luta de um povo oprimido contra os abusos britânicos.

Os camponeses precisam se libertar do pagamento de impostos devidos ao governo britânico (que tem gerado fome e aumento da miséria). A decisão ocorrerá através de uma partida de críquete que traz à tona as contradições humanas e a opressão.

Dangal (2016): baseado numa história real. Frustrado por ter desistido de lutar quando jovem porque tinha que trabalhar para sobreviver, um pai decide que seu filho iria alcançar esse objetivo. Mas, como só teve meninas transfere sua energia de luta para as filhas.

É um filme de emancipação e empoderamento feminino, de luta contra o preconceito. Contra o machismo da sociedade que considera que as mulheres teriam que ser submissas e viver para o lar.

Firebrand (2018): aborda a condição da mulher e as dores provocadas pelo abuso sexual. Uma advogada, vítima de estupro no passado, precisa lidar com problemas no casamento.

Pessoalmente, convive com as consequências de seus traumas. Profissionalmente, optou por trabalhar casos envolvendo divórcios e agressões contra mulheres.

Como estrela na terra (2007): filme de uma sensibilidade extrema, toca a alma e todo o nosso ser. Traz esperança e compreensão da dislexia e possíveis ações de enfrentamento.

Conta a história de um menino que sofre com dislexia. Vítima de preconceito e bullying, não é compreendido pelos professores e pais. Até que um professor de arte consegue diagnosticar o problema e se esforça para ajudá-lo.

Pad Man (2017): baseado em história real, aborda a questão do tabu existente na Índia em relação à menstruação. Por uma questão cultural e preço elevado, apenas 12% das mulheres utilizavam absorventes higiênicos durante a menstruação.

Pad man se sensibiliza com a situação das mulheres que tinham que ficar isoladas em casa nesse período. Decide criar absorventes de baixo custo. O filme aborda a questão do empreendedorismo, a coragem de experimentar, ousar, errar e recomeçar, os preconceitos enfrentados e as conquistas.

Três amigos na estrada (2011): ao narrar a viagem pela Espanha de três amigos indianos (despedida de solteiro), torna-se um filme leve e divertido, com lindas paisagens da Espanha, destacando sua cultura e tradições.

Viagem que muda a vida dos três para sempre, ao vivenciarem um mergulho em sua história de vida, identificam inseguranças, medos e traumas emocionais do passado, Momento rico de amadurecimento que nos leva a mergulhar em nossas próprias questões não resolvidas.

Escolhi apenas alguns filmes para indicar, mas, vale a pena explorar as inúmeras possibilidades oferecidas pelos filmes indianos. Aguardo suas sugestões.

Nota da Autora:

Nesse período de #pandemia, eu e minha mãe assistimos filmes todos os dias. É uma estratégia para ocupar o tempo e a mente com a beleza que a arte cinematográfica nos oferece. Também com seus questionamentos e convites para mudanças Filmes que nos tem possibilitado momentos gratificantes.

Foto: reprodução

Beatriz Herkenhoff é cinéfila e testemunha da importância da terceira arte nesses tempos de #isolamentosocial. Doutora em serviço social pela PUC São Paulo, professora aposentada da Universidade Federal do Espírito Santo.

 

Resposta de 0

  1. Beatriz, amei a sua crônica sobre o cinema indiano!
    Desde criança adoro cinema.
    Agora, na pandemia, passou a ser uma diversão aconchegante em casa.
    Não sabia da riqueza do cinema indiano. Das suas indicações de hoje assisti apenas: Pad Man. Os outros já entraram na minha lista!

    1. Maria José, confira minhas indicações e depois podemos conversar sobre esses filmes. São muito ricos, fonte de aprendizado E um convite para repensarmos a vida. Beijos especiais, Beatriz

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