Chiclete com Banana

Por Carlos Monteiro

O dia amanheceu cantante, um certo espírito desafiador pairava no zéfiro. Desconfio que eram Jakson do Pandeiro e Emilinha Borba  numa desgarrada. Um duelo musical em que, Jack e seu pandeiro, apontava um mascar de canto de boca, um chiclete com banana e gritava: A, E, I, O, U, Y(pissilone). Acabou sendo retrucado, veementemente, pela “Garota Grau Dez Favorita da Marinha”: “a Chiquita é bacana e se veste com casca de banana sim, e daí?”. Existencialista como o Sol de um, quase verão. A confusão acabou com a chegada de Dalva: “Bandeira Branca…!”, afinal, branca é a tez da manhã. Com certeza o limbo está em festa, é o samba-rock meu irmão.

Amanheceu zimbrando. Típico dia Pasqualizado. A impressão é de rocio, uma certa orvalhada. Chora, talvez, diante de tanta insensatez, diante de tanta falta de amor. Amanheceu borriçado, borraceiro. Amanheceu macambúzio, sorumbático. Talvez nem quisesse, com o ‘frio’ que se avizinha, preferisse ficar quietinho sob a cobertura dos nimbulus, cumulus e stratos. Dias assim, apesar do brilho que a garoa proporciona ao tornar os pisos da cidade em verdadeiros espelhos, não rendem muitas fotos, principalmente se estamos limitados a um pequeno espaço com o a janela.

O Sol, está lá, apareceu no firmamento, mas, apesar de seu esforço em se desvencilhar da nébula que envolve a Cidade Maravilhosa, qual o quê, inútil foi! Então assim, nas calhas das rodas e das casas, descem às lágrimas da natureza. Nas das rodas, escreve Pessoa, o coração, nos canos a realidade: “…Eu perdi o meu medo/Meu medo, meu medo da chuva/Pois a chuva voltando pra terra/Traz coisas do ar/Aprendi o segredo/O segredo, o segredo da vida…”. O dia alvoreceu pura poesia de Paulo Coelho e Raulzito. O Sol anda ousado, numa dança sensual, quase erótica, serpenteia pelas costas de Íbis, beija-a, afaga-a, acarinha-a, adoça-a. O(n)de há açúcar, há afeto.

Tem vindo boêmio, dandy, flâneur como num poema de Baudelaire: “…Du temps que la Nature en sa verve puissante/Concevait chaque jour des enfants monstrueux,/Dormir nonchalamment à l’ombre de ses seins,/Comme un hameau paisible au pied d’une montagne.”. Anda encantador nos últimos dias, anda colorindo corpos.

Hoje foi pura timidez…; clareou e pasqualizou! A passarada é quem está meio ausente; parecem ter ido cantar e piar em outras freguesias. A Lua vivencia um crescente, infla pouco a pouco, tem se mostrado bela, faceira, muitas vezes por entre as nuvens se escondeu, qual chuva de argentum argyros.

Venta, ventania matinal. Uivos por entres as entranhas da Nikon. Venta forte, venta alto, súplica para a vida melhorar, o tal lugar-comum dos “dias melhores virão”, quem sabe são sopros naturais anunciando o novo tempo de sensatez e esperança.

Nos meus fones, Francis Hime. Saudades, poeta! “…Salve o Rio de Janeiro/Foi ali que um milagre aconteceu/Fez nascer generosa natureza/Rara beleza/Cidade que é maravilhosa/Esplendorosa…”, vejo-te da janela, enquadrada, emoldurada, destacada.

Vejo-te com emoção, maravilhosa, vejo-te Sol, acolho-te Lua. Canto-te em verso, quem sabe, em prosa. Falo contigo. Tu me ouves, me respondes, revida meu amor por ti. Ah cidade amor, oh musa escancarada em luz, oh Ria, ria, rio, Rio. Serás janeiro? Serás leal? Serás sorriso? Será admirável? Será cidade, serás puro e belo mosaico escancarado de beleza. Mar-floresta, urbana cidade.

Serás Rio de Janeiro a janeiro? Serás fiel? “Quem não sabe povoar sua solidão, também não saberá ficar sozinho em meio a uma multidão.” – Charles Baudelaire.

O pássaro de aço, alçou voo. Alado pensamento. Vai além-mar. Busca o verbo amar. Transitivo? Direto? Sol. Febo sensual, desliza. Explode em luz. Tímido, retorna às caligens. É o tempo! É o tempo! Sejam todos os dias, bons-dias!

Sempre bons-Rios (apesar de tudo)!

 

Carlos Monteiro é jornalista e fotógrafo

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