As manifestações de rua ainda são viáveis?

Por Simão Zygband

Foto: Paulo Pinto/Agência Brasil

A manifestação organizada pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, encabeçada pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), reuniu milhares de manifestantes neste domingo (30/3), em São Paulo, para protestar contra a possibilidade de anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro e aos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro de 2023, em Brasília (DF).

A realização dos atos dividiu as opiniões nas esquerdas. Muitos consideraram o momento inoportuno para a fazê-las e sem um apelo amplo, que envolvesse as grandes massas.

Elas ocorreram em diversas capitais do país, mas ao não reunir número significativo de participantes, criaria referência desastrosa se comparadas com a atividade realizada por Jair Bolsonaro e seus cumplices no final de semana passada em Copacabana, no Rio de Janeiro.

“Quando se perde a noção de realidade política e delirantemente se tenta transformar vexame em demonstração de força, as causas justas vão para o precipício.

O voluntarismo serve talvez para embalar o auto-engano, mas a luta assim vira instrumento de seita. Infelizmente, uma parte da esquerda parece se inspirar naqueles pregadores religiosos nas praças das grandes cidades brasileiras: os caras ameaçam os infiéis com o inferno e a multidão os ignora e segue para seu destino. Sanidade acima de tudo”, avaliou o jornalista Carlos Eduardo Alves.

“Vixi, agora o negócio é negacionismo estratégico. Devo fingir que a manifestação estava lotada? Faz bem para a moral coletiva. Me poupe. Foi pouca gente. Fim. Fato.”, comentou o editor Pedro Schwarz.

A dúvida

Reunir multidões nas ruas, como ocorreu na campanha Diretas Já, aparentemente tornou-se coisas do passado.

As manifestações mobilizam, nos dias de hoje, quando a maioria dos manifestantes entende que vale a pena sair de sua casa para realizar os protestos.

Elas devem ser precedidas, evidentemente, de forte campanha de convencimento, realizadas através das redes sociais e possivelmente pelas meios de comunicação tradicionais, como rádios, jornais e TVs.

Assim os fascistas, embalados pelas grandes mídias, conseguiram reunir milhão de pessoas nas ruas para fortalecer o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff ou pela prisão do presidente Lula.

Já as esquerdas conseguem ser mais bem sucedidas nas suas convocações, principalmente em anos eleitorais, quando a polarização atinge níveis importantes para levar o povo às ruas.

Como velho de guerra, respeito todas as convocatórias para a ida às ruas, mas diante do fenômeno das redes sociais, onde a batalha também ocorre em ambiente digital, entendo que este modelo acabou perdendo força.

É necessário que exista um motivo muito forte e evidente que impulsione as manifestações, como ocorre atualmente na Argentina contra o desmonte realizado pelo déspota Javier Milei, que está roubando o salário dos aposentados, inviabilizando a sobrevivência deles.

Não que a prisão de Jair Bolsonaro e seus cúmplices não seja fundamental para a história do país e o tema Anistia para os golpistas menos importante. Vamos admitir que eles, por si só,  não mobilizam. Estão mais no imaginário da população.

Hoje temos eventos muito mais aglutinadores, tanto para a direita, como para a esquerda, do que a política pura, que são os blocos de carnaval (sic), a passeata LGBTQIA+, ou o outro lado, a Marcha por Jesus. Todas, evidentemente, com recursos sobrando para a suas realizações.

As manifestações iminentemente políticas devem ser muito bem pensadas, programadas, com investimento definido, preferencialmente com posições unitárias, unindo inclusive os divergentes.

Tem que motivar também o povão. Não pode concorrer com campeonatos de futebol. A agenda tem que prever todas estas nuances.

Isso não quer dizer que a manifestação contra a Anistia para Bolsonaro e seus cúmplices não deva ser realizada.

As ocorridas neste domingo foram válidas mas repletas de voluntarismo. Chegaram no limite que poderiam ter chegado.

Mas elas, na minha modesta opinião, devem ser evitadas, não ser normalizadas, para evitar desgaste do processo.

Não fazer a manifestação pela manifestação.

Mas tudo isso é tema de análise mais profunda.

Simão Zygband é jornalista veterano e editor do site Construir Resistência

 

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