Construir Resistência
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A humanidade de Lula

Por Jorge Antonio Barros

E Lula chorou mais uma vez, ao dizer que sua principal missão no governo é combater a fome. Eu já vi Lula chorar outras vezes. Lula chorou no Raso da Catarina, uma ecorregião localizada na parte centro-leste do bioma caatinga, no estado da Bahia. Uma região desértica onde fica Canudos, a terra do beato Antonio Conselheiro, que enfrentou várias expedições do Exército brasileiro. Com Zuenir Ventura, eu cobria para o extinto JB a primeira Caravana da Cidadania do PT, que refez em 1993 o trajeto do migrante Lula, entre Garanhuns (PE) e Santos (SP), Lula chorou em 1989 ao discursar para apoiadores em frente à fábrica da Volkswagen, em São Bernardo, na primeira eleição presidencial pós-ditadura, relembrando sua prisão e as lutas sindicais do ABC. Eu cobria a eleição pelo jornal O Dia. Lula chorou ao receber o diploma de presidente após sua primeira eleição, 2002. Eu vi pela televisão, e chorei também, como bom descendente de nordestinos.

Dessa vez, as lágrimas de Lula custaram a queda da Bolsa e uma disparada do dólar. O mercado mostra suas garras. A Faria Lima é uma menina bonita e cheia de curvas perigosas, mas muito sensível. Fareja logo quando algum governo manifesta mais preocupação com os desfavorecidos do que com aqueles que têm a burra cheia de dinheiro. Com o episódio de ontem, fica a sensação de que o mercado pode reunir outro tipo de gente insatisfeita com o resultado da eleição e, que em grupos de WhatsApp ou Telegram, devem ditar as regras para uma corrida ao dólar só pra desequilibrar o lastro do navio da economia nacional. E depois, com a ajuda sempre rápida dos grandes veículos de comunicação, profetizar o caos. Não é novidade que Lula sempre foi emotivo. O mercado não precisa ficar ansioso por isso.

Mas não dá pra pedir bom senso ao mercado (até porque ele não mostra a cara, apesar de ter porta-vozes). Quem precisa ter bom senso somos nós, cidadãos e contribuintes que entendem a gravidade da situação política e econômica. Não dá nem para tentarmos comparar a humanidade Lula com a desumanidade de Bolsonaro. Seria demais. Bolsonaro é um egocêntrico e incompetente que, ajudado pelo “Posto Ipiranga”, sequer entregou o que prometeu ao mercado. Também por isso perdeu a eleição.

O momento exige da parcela sensata da população não se desesperar e ficar dando ouvidos a qualquer sugestão dos consultores financeiros. Muita calma nessa hora. Queremos, sim, que Lula informe seus planos econômicos, mas depois de tomar posse. Já suportamos quase 700 mil mortos com a Covid-19, na conta do governo atual, e a metade do país não derramou uma lágrima de crocodilo.

Jorge Antônio Barros é jornalista e editor-chefe do Quarentena News.

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