Por Tom Cardoso
Tô voltando de ônibus do Rio. Além de gastar menos, não preciso comer a bolacha de queijo com gosto de chulé da Gol. O pão de queijo do Graal, perto daquilo, é um boeuf a bourguignon.
Também é bom pra colocar a leitura em dia. Não dá pra devorar um Crime e Castigo numa tacada só, como aquele estudante de jornalismo, mas tô quase terminando a outra autobiografia da Tia Rita.
Foi o primeiro livro que me fez chorar e rir ao mesmo tempo. Eu chorava por cima e gargalhava por baixo, de uma vez só. Muito louco.
Tive que parar a leitura algumas vezes. Dois caras corpulentos, de regata, sentados do outro lado do corredor, não paravam de falar – e muito alto.
O que estava sentado no corredor, mais perto de mim, encarnou o Costinha e passou a contar uma anedota por minuto.
O da janela, toda vez que a piada acabava, batia com uma das mãos no vidro. Bem forte. Cinco porradas seguidas.
E eu achando a risada do Tio Oscar desagradável.
Pensei em sugerir que, pelo menos, o bater de vidro fosse abolido do talk show rodoviário, mas fiquei com medo do cara trocar a janela pelo meu rosto.
Regata+ bíceps+ testosterona+ porrada no vidro+ piada do Costinha = bolsominion louco para dar sopapo.
Coloquei o fone de ouvido, chamei pela Nina Simone e relaxei.
Uma hora depois, levantei para ir ao banheiro, e vi a inesperada cena, fotograda por mim.
Os dois dormiam, com o do corredor na cabeça do peito do da janela.
As mãos dadas.
Só o amor salva.
Tom Cardoso é jornalista, escritor e crítico musical