Se tivessem punido a tigrada

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Por Léo Bueno 

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O general Augusto Heleno foi flagrado invocando o golpe para antes da eleição de 2022.

Está documentado em vídeo.

“O que tiver que ser feito tem que ser feito antes das eleições. Se tiver que dar soco na mesa é antes das eleições. Se tiver que virar a mesa é antes das eleições”, disse o general.

É parte culminante de uma linha que terminou na perigosa micagem do 8 de janeiro de 2023. E que não começou ali, naquele momento. Mas que talvez tenha começado justamente com o próprio Heleno e sua gente.

Hoje tudo já está registrado, indiciado e com parte da massa de manobra condenada pelo mesmo motivo:

tentativa de golpe de Estado.

Tempo para refletir.

Diz-se amiúde que o neofascismo brasileiro não teria grassado caso os maiores responsáveis pela violência na ditadura militar tivessem sido punidos.

Os militares, ao permitir a soltura e o reingresso de seus adversários políticos – falo dos vivos, embora torturados, humilhados e mutilados -, salvaram-se primeiro ao incluir a si mesmos na Lei de Anistia.

Muitos se aproveitavam da anomia da ditadura. A resistência, no entanto, só pedia a punição de um grupo deles.

Era a chamada linha dura, apelidada de ‘tigrada’.

Eram eles que comandavam os porões. Eram eles que torturavam. Foram eles que tentaram impedir a queda da ditadura. Foram eles que, pateticamente, tentaram organizar um atentado a um show no Rio Centro para culpar a esquerda e acabaram se explodindo no caminho (qualquer semelhança com os idiotas tentando levar bombas para o aeroporto de Brasília em 2022 não é mera coincidência).

No auge do impasse sobre a abertura, em 1977, a tigrada tinha um farol no então ministro do Exército, o general Sílvio Frota.

Ele queria ser presidente. Ernesto Geisel, acossado pela classe média brasileira e pelo governo americano – que já achavam a ditadura caquética -, não pôde abrir caminho para Frota. Teve de demiti-lo.

Seguiu-se assim a queda em dominó da ditadura, não sem antes a negociação obscena da Lei da Anistia.

Pois bem: ajudante-de-ordens de Sílvio Frota era Augusto Heleno.

Ele era o Mauro Cid da antiga tigrada.

Mas, ao contrário do Mauro Cid, seguiu dando cartas no Exército.

Resta provada, portanto, a tese que se difunde amiúde.

Houvessem sido punidas, pessoas como o agora general reformado – que nesta quinta pré-carnavalesca passou vergonha recebendo a PF em sua casa – não mais falariam em golpe de Estado.

E vidas teriam sido poupadas.

Umas 700 mil ou mais.

(Tem coisa ainda mais cabeluda. Teve o Massacre de Cité Soleil, que ainda precisa ser conhecido pelo mundo. Mas essa é outra história.)

Léo Bueno é jornalista e trabalhou na rádio Jovem Pan de São Paulo e no Diário do Grande ABC, além de sites e revistas.

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