Por Tania Veiga – Coletivo Andorinha de Lisboa
Fotos: Marzie Damin
Na última semana, logo após a leitura do relatório da CPI da COVID-19, a comunidade brasileira em Portugal soube que o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, estaria na Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa para proferir palestra sobre o enfrentamento da pandemia.
Diante do pedido de indiciamento do ministro Queiroga no relatório da CPI, o Coletivo Andorinha se perguntou como este senhor poderia contribuir com a comunidade médica portuguesa, já que compactuou com o negacionismo do presidente Bolsonaro, que faz campanha contra as medidas de distanciamento social e ao uso de máscara; já que procrastinou a compra de vacinas, sendo feito no Ministério da Saúde um verdadeiro balcão de negócios; já que fechou os olhos para a atuação de planos de saúde no tratamento dos doentes de COVID – tudo isso segundo o próprio relatório elaborado pelo senador Renan Calheiros.
Enviamos um email ao diretor da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa e não tivemos resposta; na segunda-feira, um dia antes da conferência, a direção da Faculdade mudou o formato da conferência, deixando de ser presencial e online para apenas online, sem a presença de assistentes, portanto, sem ninguém poder rebater as afirmações do ministro, sem inclusive a presença de jornalistas.
Diante dessa afronta ao direito de questionamento das autoridades constituídas, em que se baseia o Estado democrático de direito, o Coletivo Andorinha, a Casa do Brasil de Lisboa e o Coletivo Maria Felipa organizaram uma manifestação em frente ao Hospital Santa Maria, onde se localiza a Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Nesta manhã de terça-feira, dia 26 de outubro, ao chegarmos ao Hospital Santa Maria, ali já estavam muitos manifestantes postados para demonstrar seu repúdio à presença de um ministro da Saúde que valida práticas duramente criticadas pela Organização Mundial de Saúde e de toda a comunidade científica para o combate a uma doença que já matou mais de 600 mil pessoas no país.
Ás 10h40, jornalistas já esperavam na calçada e montaram seus equipamentos, perguntando aos organizadores se poderiam ser entrevistados. Enquanto alguns eram entrevistados, outros manifestantes abriram suas faixas e bandeiras que apresentavam as organizações, a já conhecida faixa com os dizeres “Bolsonaro Genocida”, muitas cruzes brancas que representavam os mortos de COVID no Brasil, além de cartazes contestando a política do governo brasileiro de enfrentamento à pandemia, que só aumenta a insegurança das pessoas: o abandono dos mais vulneráveis, contra o distanciamento social e o uso de máscara e a divulgação de fakenews.
Em determinado momento, passou um carro do Comité Olímpico Português e gritou: Fora Bolsonaro! Está claro que a população portuguesa conhece o que está acontecendo no Brasil e não compreendem porque esse homem ainda continua governando nosso país. Outros portugueses vieram cumprimentar os manifestações e alguns deram entrevistas aos jornalistas. Todos lamentando o que acontece no Brasil.
Infelizmente, um português e um brasileiro demonstraram sua insatisfação em relação aos manifestantes; nada que obrigasse os policiais portugueses a intervirem – em Portugal a polícia garante a segurança das manifestações, pois elas são comunicadas às autoridades com certa antecedência.
Os manifestantes continuaram na calçada durante todo o tempo de duraçao da conferência no auditório da Faculdade de Medicina. Nesse tempo, falaram ao microfone, gritaram palavras de ordem e conversaram entre si. Quando a conferência terminou, se dirigiram para a saída dos carros e assim que o automóvel do ministro passou pelo portão, gritaram sua insatisfação.
Depois disso, os jornalistas foram embora, cada manifestante foi guardando sua faixa ou seu cartaz, se despediram todos, congratulando-se, e o portão do Hospital Santa Maria voltou a ter seu movimento habitual.