Por Walter Falceta Jr.
Não, não vamos queimar livros de Tchekhov nem triturar “Os Irmãos Karamazov” nem tocar “O Lago dos Cisnes” ao contrário. Não…
Sem a mãe Rússia, não teríamos o realismo socialista de Gorky, tampouco a obra impactante de Tolstói, o maior escritor do mundo, anarquista, socialista e humanista. Ele influenciou toda a literatura ocidental de esquerda.
No campo das ideias, foi inspirador de Gandhi e também de Martin Luther King, Jr..
O companheiro Lênin pensou como vanguarda. Sua ideia de revolução, colocada em prática a partir de 1917, distribuiu poder e questionou os pilares da política tradicional.
A Revolução Russa, enquanto conduzida pela mão generosa do camarada Vladimir, constituiu uma experiência pioneira de democracia pela base. Trabalhou para constituir igualdade de gênero e agregou a comunidade LGBTQIA+ ao processo da mudança.
Mas tem muito, muito mais, e não é somente o estrogonofe, obsessão dos repórteres do Fantástico, da Rede Nato de Televisão.
Você precisa pesquisar mais sobre Sofia Kovalevskaya, que está na imagem deste post.
Lá no meio do Século 19, ela rompeu padrões, tornou-se uma cientista respeitada e fez inúmeras descobertas no campo da Matemática e da Mecânica.
Muito da tecnologia que temos hoje se deve às descobertas de Sofia, uma mulher que misturava sabiamente a teoria à prática e que logrou antever o futuro.
A irmã dela, Anna Krukovskaya, é outra companheira batuta. Vivendo entre 1843 e 1887 foi uma das pioneiras do socialismo e do feminismo revolucionário.
Participou da formidável Comuna de Paris e foi amiga de ninguém menos do que Karl Marx. Outro de seu círculo foi Fyodor Dostoiévski, maravilhoso escritor que influenciou gerações.
Já que falamos de mulheres, saiba que Simone Beauvoir leu muito sobre as teorias feministas de Clara Josephine Zetkin e de Alexandra Mikhaylovna Kollontai. Você as conhece? Nãoooo???!!!
O gênio russo foi também constituído na dificuldade, no rigor do clima. Por isso, o que se pensa vira sempre benefício.
Foi assim que Alexander Popov criou as aplicações práticas do conhecimento das ondas eletromagnéticas, um empreendimento científico que mudou a vida humana neste planeta.
Assim como foram os estudos de Élie Metchnikoff, um dos fundadores da imunologia e da gerontologia. Se a sua vovó ainda está viva ou durou mais para contar suas histórias, vale agradecer a esse baita ganhador do Prêmio Nobel.
Uma bacia de outros merece aplauso. Seria tão rica e sedutora a música clássica sem Sheherazade, de Rimsky-Korsakov?
E seria ainda o mundo livre se os russos não derrotassem a soberba de Napoleão?
E o que teria sido de nós se o mesmo povo não tivesse derrotado o poderoso exército de Hitler?
Então, vale agradecer a heróis como Vasily Zaytsev e às companheiras Roza Shanina e Lyudmila Pavlichenko, que se dedicaram a abater tantas bestas nazistas assassinas.
A gente pensa e não para de encontrar russas e russos fundamentais ao avanço humano.
No ambiente da neve, Dmitry Zagryazhsky inventou a esteira mecânica, em 1837, que deu origem às atuais escavadeiras. Fyodor Pirotsky, em 1874, concebeu o trem elétrico.
O videotape recorder é da lavra de Nikolay Zhukovsky. O helicóptero moderno, o primeiro, foi construído por Igor Sikorsky. Alexander Stoletov nos deu a célula solar, instrumento da energia limpa.
O transformador elétrico, que faz uma diferença fundamental na vida moderna, é resultado do esforço de Pavel Yablochkov, na distante década de 1870.
E a televisão veio logo compor as comodidades da civilização em razão das invenções de Vladimir Kozmich Zworykin.
Cansou? A gasolina purinha surgiu das invenções de refino de Vladimir Shukov e a borracha sintética dos estudos de Sergei Lebedev.
Sem os russos, a gente demoraria muito mais para ter o satélite de comunicação, e provavelmente não teríamos visto Copas do Mundo tão cedo pela televisão.
Yuri Gagarin e seus parceiros botaram o homem para fora da Terra, para calar toda a ignorância e provar que nossa casa é redonda.
Toda a base da pesquisa espacial nasceu na mãe Rússia. Foram eles que desenvolveram a comida que não estraga e, ainda assim, nos alimenta.
Muito da indústria alimentícia atual se vale dessas descobertas no campo da conservação de nutrientes.
Que me desculpem os demais, mas falo também para a minha galera corinthiana.
Sem o compa russo Bakunin, o espírito anarquista coletivista não teria brotado em Malatesta.
Sem a ideia do italiano Malatesta, não haveria a educação popular libertária de Miguel Battaglia.
E é por causa de sua inspiração filosófica genial que somos assim, solidários, gregários, atrevidos, inventores de novos protagonismos.
Sigamos adiante… Os russos inventaram as estações espaciais e começaram a oferecer um futuro de sobrevivência para a humanidade do futuro.
Um dia, o Sol vai se aproximar e teremos de encontrar uma nova morada. Nessa época, certamente, alguém vai se lembrar das russas e russos que começaram essa magnífica aventura humana, resistente e transcendente.
Sofia Kovalevskaya (1850-1891) – cientista russa

Walter Falceta é jornalista e um dos fundadores do Coletivo Democracia Corintiana (CDC)