O gênio da Geoburrítica e outras inexpressividades

Por Luiz Hespanha

 

Bolsonaro entrou para a história da diplomacia universal como o inventor da Geoburrítica. Em texto lunático no WathsApp ele falou de uma nova ordem mundial, a NOM, liderada pelos comunistas Biden, líderes da Europa e até por ministros do STF. Segundo ele, somente a Rússia, a China e a Liga Árabe seriam capazes de se opor à NOM. Inacreditável para quem já bateu continência para a bandeira norte-americana, lambeu o topete do Trump, xingou a China e foi batizado pelo pastor Everaldo no Rio Jordão em Israel. Fontes de Brasília garantem que a teoria foi divulgada sob protesto das emas do Planalto. Elas continuam confusas e não sabem se o Brasil vai enviar tropas chefiadas pelo general Mourão para invadir Moscou e outras tropas lideradas pelo presidente para defender o Putin. 

A estreia do 01 na Folha foi arrasadora. O artigo, um verdadeiro manifesto de defesa do direito à publicação de fake news, é histórico. A Folha deu início ao que pode ser uma série de colunas da familícia. A expectativa é que daqui pra frente tenhamos textos do Zero Zero sobre a paz mundial e o direito de contrair Covid e matar petistas. Já imaginou um artigo em parceria com Steve Bannon e Alan dos Santos? Teremos Dudu 02 na editoria gastronômica escrevendo sobre variações do preparo e sabores de hambúrgueres? E Carluxo 03 pontificando nas editorias de Turismo e Tecnologia sobre viagens internacionais ou compra e uso de equipamentos de espionagem? O 04 Jair Renan também pode assinar a coluna “Night and Days/Barras e Paranoás”, falando de festas, carrões, jet skis, mansões e seus gloriosos proprietários. Se cuida Monica Bergamo…

Videntes, terapeutas, arqueólogos, influencers digitais e quejandos têm se debruçado sobre o futuro de João Dória. Há quem aposte na reformulação da área político-funerária brasileira, já que Dória é considerado o sujeito que enterrou com honras e pompas o outrora partido dos cheirosos e limpinhos do Brasil. Caso continue na política, sua capacidade de implosão partidária continuará intacta. Muitos o consideram o único capaz de fazer a verdadeira explosão, digo reforma, política que o Brasil precisa. Outros apostam no fim da empresa Lide, aquela que o eternamente ótimo Paulo Henrique Amorim dizia que servia apenas para apresentar políticos a empresários e vice versa. O Lide poderia renascer como uma empresa destinada apenas para administração/divulgação de camarotes de Carnaval, F1 e outros babados. Há quem ache que Dória vai entrar de cabeça no mercado das artes e cuidará apenas de gerenciar as exposições mundo afora da escultora Bia Dória, sua consorte. Dizem até que as direções do Guggenheim, Metropolitan, Louvre, British Museum e Ermitage não veem a hora. Mas, não subestimem a sua capacidade de recuperação política. Dória também pode sacrificar Rodrigo Garcia e tentar uma reeleição duvidosa. Certo mesmo é que ele tem tudo para se eleger prefeito de Miami ou de Dubai, uma escolha difícil, mas uma eleição garantida.

Toda noite Mr. Motta dorme Al Green, madruga Otis Redding e acha que acorda Marvin Gaye. Para tentar ser lembrado volta e meia solta um traque que se pretende polêmica. Depois de desancar meio mundo, disse que Raul Seixas era um “merda completo”. Mr. Motta poderia naturalizar-se norte americano e chegar caninamente “ao auge” num beco do Harlem ou do Bronx. Duro vai ser achar um barzinho para tocar e tirar um troco num país onde 30 de cada 10 cantores negros tocam, compõem e cantam mil vezes mais que ele. Mas, há sempre outra chance. Mr. Motta poderia escrever/falar, em inglês obviously, sobre vinhos em Portugal ou na França, lugares onde pouca gente entende do assunto.

Outra expressividade cultural é o Sérgio Camargo da Fundação Palmares. É uma figura tão rica em conteúdo que é inevitável declarar-se incapaz de emitir qualquer comentário sobre sua capacidade e produção intelectual. Emicida, Gil, Miltão do MNU, João Jorge do Olodum, Silvio Almeida, Talíria, a Malunguinho, Jurema Werneck e o próprio Oswaldo de Camargo, pai do Sérgio, também se declarariam incompetentes. Sérgio é um caso raro onde 1/16 avos de linha de rodapé e meio adjetivo, condensam seu pensamento e obra.

Luiz Hespanha é jornalista, compositor de música popular (#CançõesDeAmorDelírioTesãoInquietudeLutaDeClasseEÓcio), autor do “Livro das Verdades Inúteis” e de “Breves Memórias da Terra-do-já-teve” (https://www.amazon.com.br/); e viciado em assistir o BBB e as intervenções do Márcio Canuto em tevês sem áudio, vídeo e energia elétrica. A foto que ilustra o texto também é sua e foi tirada na Av. do Estado em SP.

Ilustra Hespanha

 

Contribuição para o Construir Resistência ->

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *