Construir Resistência recomenda uma leitura atenta da matéria de #Jeniffer Mendonça, publicada pela #PonteJornalismo:
Em 2016, mortes pela polícia eram 4% das mortes violentas de vítimas de 10 a 19 anos; em 2020, saltaram para 16%; meninos negros são 80% das vítimas. Estado de São Paulo é responsável por 44% das mortes de crianças e adolescentes pela polícia
“A polícia não dá chance para a juventude” foi a frase que a cobradora de ônibus Ana Paula Rocha, 45, disse quando a morte do filho Igor Rocha Ramos, 16, completou um ano. Ela pediu para ele comprar cigarro em uma padaria e acabou morto com um tiro na cabeça disparado pelo sargento Nelson Gonçalves da Veiga Almeida, no Jardim São Savério, bairro da periferia da zona sul da cidade de São Paulo, em abril de 2020. 80% das mortes violentas contra crianças e adolescentes no Brasil são de meninos negros. Além dele, outras 787 vítimas de 10 a 19 anos foram mortos pela polícia em 2020, de acordo com o relatório inédito lançado nesta sexta-feira (22/10) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância, em tradução livre), que aborda violências letal e sexual contra vítimas de zero a 19 anos.
As entidades solicitaram informações aos 26 estados e ao Distrito Federal, mas apenas 18 encaminharam dados possíveis de comparação de 2016 a 2020. Nesses quatro anos, foram 26.413 mortes violentas intencionais de crianças e adolescentes, que englobam homicídio, lesão corporal seguida de morte, latrocínio e mortes pela polícia em serviço. Enquanto os homicídios de crianças até nove anos acontece em maioria dentro de casa, as vítimas a partir dos 10 anos, especialmente na faixa dos 15 aos 19, sofrem com o que os pesquisadores chamam de “violência urbana”, e a intervenção policial tem aumentado como causa desses óbitos. “Por dois anos, teve uma redução dos homicídios, mas a violência policial continuou aumentando e agora, em 2020, voltaram a subir tanto os homicídios quanto as mortes pela polícia e isso tem relação com todo um debate de enfrentamento ao tráfico de drogas, a uma estrutura racista para lidar com a criminalidade e uma percepção de ‘bandido bom é bandido morto’ em que a atuação policial tem na letalidade uma justificativa”, analisa a pesquisadora do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Sofia Reinach.
Com relação apenas aos dados de 2020, a pesquisa conseguiu obter dados de 24 unidades federativas (com exceção de Bahia, Goiás e Distrito Federal) cuja soma de mortes pela polícia foi de 787 vítimas de 10 a 19 anos (os 736 são de 18 estados) e 5186 das demais causas. Em uma proporção das mortes violentas nos 24 estados, São Paulo lidera o índice, com 44% desses homicídios praticados pela polícia. Reinach aponta que a alta taxa reflete tanto a presença registros mais qualificados sobre essa faixa etária quanto a existência de uma cultura que corrobora a letalidade.
O Oficial de Monitoramento e Avaliação da Unicef no Brasil Danilo Moura argumenta que os meninos negros sofrem mais por não terem a sua infância e juventude reconhecidas e o trato é diferente pelas forças de segurança. “O menino branco de 15 anos é um menino, o menino negro não, é tratado como um homem, como um risco, e se envelhecem corpos negros em que a morte é o último grau de violência das que acontecem antes, com a desigualdade social, com a falta de acesso a serviços públicos”, critica. “Os policiais não são treinados para lidar com adolescentes”.
Leia a reportagem na fonte em:
https://ponte.org/policia-matou-duas-criancas-e-adolescentes-por-dia-no-brasil-em-2020/