Por Luciano Martins Costa
O ministro da Defesa, José Mucio Monteiro, tenta individualizar o plano de golpe que seria detonado por dois magnicídios e um sequestro, dizendo que os aventureiros agiram como indivíduos, não representando as Forças Armadas.
O ministro acredita em fadas.
Em agosto de 1975, ainda estudante de Jornalismo, entrevistei o então comandante do II Exército, em São Paulo, Ednardo D’Ávila Mello.
Entre outras barbaridades, ele afirmou que iria “neutralizar” 2 mil “comunistas” em São Paulo.
Num momento de destempero, se referiu a um “projeto Jacarta”. Como anotei isso no meu caderno, ameaçou: “Se você publicar uma linha, serão 2 mil e um”.
Escrevi um relato e entreguei a Rodolfo Konder, meu professor na época.
Ele respondeu com uma blague: “Essa gente da linha dura está isolada. A abertura do general Geisel é lenta e gradual, mas é segura”.
Dois meses depois, Konder estava preso e submetido a torturas, com outros militantes do PCB. Naquele fim de semana, Vladimir Herzog foi assassinado na mesma sede do Doi-CODI.
Os responsáveis pelo crime eram ligados ao general Sylvio Frota, que sonhava com uma ditadura de cem anos.
Os comandantes do plano golpista de 2024 são remanescentes do grupo de Frota.
Eles alimentam o fetiche de Jacarta – sonham eliminar as lideranças progressistas e de “esquerda”, como ocorreu na Indonésia nos anos 60.
O número mágico da quadrilha é 30 mil assassinatos, como já foi dito publicamente por Jair Bolsonaro.
Ele se referiu a “neutralização com morbidade”, jargão que usam, como “cancelamento de RG”.
Os chefes do grupo são todos egressos da Academia Militar de Agulhas Negras, onde Bolsonaro iniciou a carreira de oficial.
O ministro Mucio deveria estar tratando de higienizar esse ninho de serpentes.
Mas o ministro virou relações públicas desse bando de celerados.
Foto de capa: O ditador Ernesto Geisel e o general Sylvio Frota
Luciano Martins Costa é jornalista. Foi editor executivo do Estadão.
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