Por Mateus Muradas
Nos últimos dias, o noticiário foi tomado por informações sobre um suposto “erro contábil” nas demonstrações financeiras das Americanas, no montante de R$ 20 bilhões. Muitos se pergunta o que dígitos essa montanha de dinheiro, se alguém roubou, o que são esses erros contábeis, e infelizmente mesmo a mídia especializada, desinforma muito. Então é fundamental, disseminar alguns conceitos e tentar esclarecer a população, o que esta acontecendo com esta gigante do varejo.
Em primeiro lugar, é importante dizer que a Americanas, é uma empresa S.A. de Capital Aberto na Bolsa de Valores. Seu grupo controlador o Fundo 3G, Jorge Paulo Lemann com a participação de outros fundos e ações listadasna Bolsa de Valores. Além disso, a empresa possui financiamentos com bancos de grande porte dentre eles o BTG Pactual. Certo, mas afinal, o que aconteceu neste tal “erro contábil”?
A empresa realiza rotineiramente a chamada operação de “risco sacado”, que de forma bem resumida é como se fosse um “crediario das Casas Bahia” para empresas… Ou seja, a empresa compra os produtos do fornecedor, o barco paga este fornecedor e a empresa passa a dever para o banco, incorrendo em juros e classificações contábeis específicas. E ai que mora o problema!!!
Os executivos ocultaram das demonstrações de resultado, por décadas a existência destes juros. Logo, seu lucro anual, durante décadas, foi inflado. Além disso, não classificavam este “risco sacado” como uma dívida de empréstimo e sim como uma mera dívida com fornecedores.
Os bancos, quando emprestam dinheiro para outros tipos de dívida mais de longo prazo, colocam nos contratos os chamados “covenants”. Em resumo, essas são regras que os bancos impõe pra empresas, por recompor não contrariem dividas de curto prazo, manterem a saúde financeira da empresa boa, etc… caso a empresa não cumpra estas regras os bancos literalmente “tomam” os bens e o controle da empresa.
Ao longo dos últimos anos, as Americanas pagaram dividendos vultuosos para seus acionistas, pagaram bônus e PLR enormes para seus executivos. E a pergunta que fica é com base em qual lucro?
Um lucro fraudulento, que escondia estes juros para garantir esses dividendos e bônus. Em outras palavras, os executivos das Americanas lesaram os pequenos investidores, os bancos e os funcionários da empresa.
O comum as empresas usarem este tal “risci sacado” para ter uma boa gestão de fluxo de caixa. O que foi errado, foi esconder estes juros. Foram pagos bilhões em dividendos, milhões de bônus para estes executivos. E pra piorar no ano de 2022, estes executivos venderam suas ações super valorizadas, antes da fraude estourar.
Mas o que tem haver os contadores e auditores? Certamente este é o tipo de fraude que é maquiada pela administração para não chamar atenção dos auditores. Por incrível que pareça, o assunto estava tão enraizado que nunca, ninguém técnico se deu conta do problema. Em outras, foram enganados pelos altos executivos da organização.
Ta bom, mas o que isso impacta no Kit Kat que eu sempre dou uma passadinha pra comprar e comer nas Lojas Americanas?
Pois então, 44 mil funcionários das Americanas podem perder seus empregos. Fora os trabalhadores indiretos dos fornecedores, dos shoppings, etc… além disso, vários fundos de investimento que consideravam as Americanas um investimento seguro foram lesados.
A quem interessou está fraude, e também a quebra das Americanas?
Certamente quem ganhou nessa história foram os executivos que venderam suas ações antes do estouro, que ganharam bônus estrondosos. Mas também os acionistas majoritários, dentre eles Jorge Paulo Lemann e Beto Sicupira, que receberam dividendos que não vieram dos lucros das Americanas, mas deste dinheiro emprestado dos bancos para financiar a operação.
Com a quebra da empresa, Queen sai ganhando são as Big Tech internacionais como a Amazon que saem ganhando. Logo, o efeito no longo prazo é esta grande empresa brasileira sair do mercado e temos mais um oligopolio internacionais dominando o varejo brasileiro, controlando o preço inclusive do seu Kit Kat.
No fim do dia, o efeito macroeconômico da quebra das Americanas pode atersr inclusive o processo inflacionário e cambial do Brasil. Estamos diante da maior fraude contábil, talvez da história do capitalismo, isso é um desastre para imagem do Brasil no mercado exterior. O nosso chamado “risco país” certamente será afetado, uma vez que mais uma empresa gigante de capital aberto cometeu uma fraude contábil (lembremos do caso Eiki Batista, da Petrobrás, do Banco Panamericano).
É necessário, que o assunto seja polítizado, a Câmara dos deputados paute uma requalificação da Lei das S.A.s, os órgãos reguladores precisam impor órgãos de controle interno mais rígidos para empresas cim capital na bolsa. Precisamos pensar nos trabalhadores qur podem perder seus empregos por ingerência dos executivos. Precisamos por fim, que a justiça puna com rigor os executivos e imvestigue se houve dolo também dos acionistas majoritários.
As Americanas, apesar de ser uma empresa controlada por fundos de investimento e o grande capital, e um ativo da sociedade, que presta um serviço de varejista relevante para sociedade. Primeiro preservem os empregos, preservem a existência da empresa. Por último, puna os responsáveis.
Espero que tenha ajudado na compreensão deste assunto. Me mande um alo e diga o que achou deste caso.
Mateus Muradas – formado em Contabilidade pela FEA-USP, cofundador do Fórum Social da Zona Leste e diretor de projetos da Camino Education