Por João Lopes
“Ontem, a Câmara de Deputados aprovou a PEC da Blindagem. O Senado afirma que esta PEC não passará por lá. Veremos. Vou tentar explicar o que ocorreu.
Votaram a favor desta PEC 11 deputados do PT (entre eles o presidente do diretório estadual de SP), 8 do PSB, 6 do PDT e 1 do PV. Para quem ainda vive no discurso que a correlação de forças é desfavorável para o lulismo, deve ter sido chocante verificar que não é bem assim.
Tivemos várias explicações sobre esta votação do campo progressista. A menos convincente é que teria sido uma troca para passar a redução da conta de luz, a isenção do IR e a taxação dos super-ricos, além de barrar a adesão do Centrão à PEC da Anistia.
A questão que fica é: se era um acordo, por qual motivo o líder Lindbergh Farias orientou a bancada do PT a votar contra? Teria perdido a liderança na prática?
Há outra explicação. José Guimarães (PT CE) está envolvido nas investigações sobre emendas parlamentares. O mesmo caso envolve aliados como Eunício de Oliveira (MDB), Yuri do Paredão (MDB), além de deputados do PSB e PDT. Digamos que a PEC resolve a vida desses parlamentares.
Se isto ocorreu realmente, vivenciamos mais um jogo para agradar a galera: em público, pareciam contra; no concreto, dividiram a bancada para não ficar “tão apimentado”. Acredito que, a partir de agora, vamos presenciar mais cenas como esta. Explico.
Entramos numa situação em que o campo de disputa entre lulistas e bolsonaristas está, neste momento, restrito ao campo institucional, mais nitidamente na Câmara de Deputados. A militância do lulismo é desmotivada por Lula e a militância bolsonarista está meio órfã.
Sem Jair para soltar os famosos apitos de cachorro, a base social bolsonarista precisa ser excitada por muitas notícias que demonstram força exagerada para manter a “chama”. As notícias estão sendo produzidas exatamente na Câmara de Deputados.
Somente nesta semana, tivemos como pauta da Câmara a PEC da Blindagem e prometem pautar hoje a PEC da Anistia. Anistia light ou hard. Também tivemos a indicação de Eduardo Bolsonaro como líder da minoria, para livrá-lo da cassação por faltas (o que é quase impossível).
Do lado lulista, a intenção é isolar os bolsonaristas, reforçar a imagem que Sóstenes e seguidores não batem bem da cachola e atrair o Centrão.
Aqui está a hipótese mais plausível para esses acordos estranhos na Câmara de Deputados.
Gianroberto Casaleggio, o “engenheiro do caos” que forjou o Movimento 5 Estrelas na Itália dizia que não se interessava por política, mas pela opinião pública. Esta é a chave para entender os dias de bagunça na Câmara.”