Por Michel Gherman
Os custos políticos do bolsonarismo serão enormes, nos acompanharão por gerações. Custos de retrocesso no número de vacinados, no discurso anti-cientifico generalizado, no discurso de ódio institucionalizado, na inundação de armas na sociedade, na consolidação institucional do milicianismo…
Eu poderia continuar, pois os pontos são muitos. Entretanto, o custo político do apoio de grupos específicos ao bolsonaro, bem como do sequestro pelo bolsonarismo desses grupos é meu ponto aqui.
O pós bolsonarismo se reorganiza utilizando as vitórias que teve, mesmo que bolsonaro não seja mais tão visível. Nessa fase se institucionalização da extrema direita, políticos eleitos e juízes escolhidos funcionam como mantenedores da gramática bolsonarista no espaço público.
O judeu imaginário é uma dessas figuras que permanecem e são recriadas depois da derrota eleitoral de 2022. Judeu imaginário não se relaciona com invenção, mas com colonização. O imaginário é a representação que o fascismo faz do judeu e do real. Assim, o Judeu imaginário é real, mas é apenas parte do todo. Entretanto, ele passa a ser o todo pela parte. É um projeto de poder. De colonização.
O judeu imaginário é branco, ultracapitalista, violento e armado e fundamentalista religioso (visto como cristão). É um resumo do bolsonarismo . O judeu que se nega a ser isso não é visto apenas como não judeu. Mas como anti-judeu.
O espetáculo mórbido do discurso de bolsonaro na Hebraica do Rio fortaleceu essas perspectivas. Pra dentro e pra fora. Um clube isolado no Rio assumiu um suposto apoio institucional a versão mais extrema do bolsonarismo. O aplauso às falas racistas e fascistas dentro o clube vão ecoar por gerações.
E diminuem o volume das manifestações de judeus na frente da hebraica.
Mas há mais que isso. Enquanto acadêmicos, políticos e elementos do debate público passam a tratar, depois do discurso, bolsonaro como extremista, fascista e um politico de extrema direita, a institucionalidade judaica é cuidadosa. Se restringe a falar de pluralidade dos judeus, mas se nega a chamar bolsonaro pelo que ele demonstra ser: fascista.
Ao contrário, se mostra incomodado com quem o trata dessa forma, chegando a acusar (esse é o termo) quem o trata como tal, como “banalizador do nazismo”. Muito porque tratar o bolsonarismo como fascismo seria acusar muitos líderes da institucionalidade judaica como fascistas.
Na gramática bolsonarista, judaismo passa a ser sinonimo de direita, de conservadorismo, de discurso religioso. A esquerda passava, portanto, a ser o inverso: antissemita, anti-traducional e anti religiosa.
O pós bolsonarismo encontra no Brasil a absurda guerra em Gaza.
Em israel o judaismo imaginário (verdadeiro mas parcial) consegue colonizar o discurso público. Principalmente depois dos ataques bárbaros produzidos pelo hamas em 7 de outubro. Destruição, controle e recolonizacao são termos constante que responde a destruição, os estupros e os sequestros por lá.
No Brasil, a falta de percepção do tema do antissemitismo, a falta de empatia e a hegemonizacao do judeu imaginario nas instituições comunitárias fazem com que a setores da esquerda promovam discursos antissemitas.
A institucionalidade judaica retoma a dinâmica de 2018 e cria a dicotomia esquerda antissemita vs direita pro-judeus.
Alguns representantes da esquerda, sedentos por publicidade e querendo tomar alguma relevância, entram nessa dinâmica. Reproduzem discursos adequados a essa acusação.
A institucionalidade judaica pesca essas declarações e transforma essas referências no todo. A esquerda reage de forma atabalhoada. Fortalece a suspeita. Fomaliza a percepção comunitária de que “a esquerda” é antissemita.
A instutucionalidade comunitaria passa a acionar referências bolsonaristas do judiciário, os vincula com uma suposta defesa dos judeus (e de israel), criminaliza a esquerda. A institucionalidade judaica brasileira se converte em representante exclusivo da direita, entra no jogo do neo bolsonarismo e avança (não sem algum luxuoso auxílio da esquerda) criando a percepção de que ser de esquerda é ser antissemita.
É hora de resistir a essa colonização. Evitar uma segunda hebraica Rio.