Construir Resistência
Rezende

O ovo da serpente eclodiu

Por Luiz Eduardo Rezende

Num governo democrático, seja lá de que ideologia ou posição política for,  o youtuber Monark e o deputado Kim Kataguiri (foto 1) jamais teriam coragem de defender a legalidade de um partido nazista no Brasil. Até porque não teriam espaço para isso em nenhum meio de comunicação.

Acontece que o atual governo, que se diz democrata mas adota medidas fascistas diariamente, estimula esse tipo de manifestação, proibida pela Constituição. O presidente Jair Bolsonaro, homofóbico, racista, misógino, defensor da tortura e de torturadores, não disse uma palavra ou anunciou qualquer medida punitiva para o youtuber ou para o deputado.

Como quem cala consente, podemos admitir que Bolsonaro não só aceita como apoia a ideia de legalizar um partido nazista no Brasil. E não adianta  discursar afirmando ser defensor da democracia. Hitler e Mussolini também falavam em nome do povo e defendiam a liberdade e os direitos humanos. Desde que para eles e seus correligionários, claro.

A sociedade, por todos os meios possíveis, já se manifestou repudiando essa posição absurda de Monark e Kataguiri. Mas não basta. Esse caso deve servir de exemplo. É importante que as instituições tomem medidas drásticas. Monark tem que ser processado e preso e Kim Kataguiri deve ter o mandato cassado.

Bolsonaro e seus seguidores precisam ser contidos em seus arroubos fascistas. Se não, qualquer dia teremos nas ruas das nossas cidades milícias de nazistas e da Klu Klux Klan espancando quem não comunga de suas ideias.

Em tempo: eu sempre tive bicicleta Caloi.

DIFERENTES MAS IGUAIS

A tentativa dos bolsonaristas de igualar nazistas e comunistas não encontra respaldo em nenhum livro ou momento histórico. São ideologias completamente divergentes e adotam práticas políticas também totalmente diferentes. Os extremistas, sejam de direita ou de esquerda, esses sim, são muito semelhantes.

O PCO, Partido da Causa Operária (foto 2), agremiação nanica, sem votos, sem quadros, que vive à custa do Fundo Partidário, pois não tem número de filiados suficiente para se sustentar, divulgou uma nota apoiando o youtuber Monark, sob alegação de que tornar um partido nazista ilegal abriria espaço para colocarem também os comunistas na ilegalidade.

Nesse caso, nazistas e comunistas estão juntos. Acontece que divulgar ideias ou posições nazistas é proibido pela Constituição, enquanto o PCO, com suas posições ultra radicais, está aí, legalizado, fazendo campanha no rádio e na televisão para seus candidatos que nunca se elegem. Esse tipo de  organização radical só depõe contra a esquerda consciente, que lutou contra a ditadura e agora busca derrotar nas urnas o bolsonarismo.

O PCO é produto da bagunça que tomou conta da política brasileira, onde um número grande de partidos, sem a menor representatividade, é ganha-pão de dirigentes que vivem à custa do fundo partidário, ou seja, do dinheiro público.

PRESENTE DE GREGO

Foi positiva a primeira impressão sobre a decisão do prefeito Eduardo Paes de entregar à família do congolês Moïse, brutalmente assassinado, a exploração do quiosque onde ele trabalhava (foto 3), na Barra da Tijuca. Mas logo surgiram as primeiras indagações.

Teria a família de Moïse preparo para gerenciar o negócio? O Senac se prontificou a matricular os congoleses gratuitamente num curso de gerenciamento de bares e restaurantes. A primeira questão estaria resolvida.

Mas a principal está em aberto. Embora a polícia não esteja aprofundando essa linha de investigação, tudo indica que o crime foi praticado por milicianos, já que a milícia domina toda aquela área. São tão audaciosos que o dono do quiosque ao lado já disse que de lá não sai e pronto.

Como seria então esse relacionamento? A família vai pagar taxa de segurança para quem provavelmente matou Moïse? E se não pagar, qual será a reação dos milicianos?

Não há dúvida que a intenção do prefeito Eduardo Paes é a melhor possível. Mas em se tratando de milícia é bom pensar duas vezes antes de bater de frente. Porque, todos sabemos, contra milicianos não adianta chamar a polícia.

TUCANOS SE BICANDO

Quando João Dória ganhou as prévias do PSDB, derrotando boa parte das cabeças coroadas do partido, e saiu candidato a presidente da República, pensou que seria o representante da terceira via, capaz de abalar a polarização Lula-Bolsonaro, que já se mostrava como a grande força para as eleições de outubro.

O tempo foi passando, a candidatura de Dória não decolou e hoje ele está estacionado entre dois e quatro por cento das intenções de votos. Surgiu então um movimento interno, encabeçado por figuras importantes do partido, como Tasso Jereissati e Aécio Neves, exigindo que Dória seja substituído por Eduardo Leite como candidato.

Se vão conseguir, ainda é cedo para sabermos. Mas, com certeza, isso representa um racha no partido, capaz de diminuir significativamente a bancada tucana no Congresso Nacional, praticamente transformando o PSDB num partido nanico.

Um filhotinho de tucano, digamos assim! (foto 4)

RESPOSTA À ALTURA

Há uns dez dias, amigos do general Augusto Heleno levaram ao presidente Jair Bolsonaro uma pesquisa encomendada dando conta que ele é melhor candidato a vice do que o general Walter Braga Netto, o preferido da família, pelo menos por enquanto. A resposta não demorou.

Começou no Palácio do Planalto um burburinho estimulado pelos partidários de Braga Netto queimando Heleno como possível candidato a vice (foto 5). O argumento é que Braga Netto tem muito mais prestígio na tropa e que Heleno está muito velho para essa função.

Essa brigalhada acontece com Bolsonaro lá atrás nas pesquisas. Imagine o que aconteceria se ele estivesse a ponto de ganhar a eleição.

DEU CHABU

Jair Bolsonaro, defensor da população armada para enfrentar os bandidos e que dorme com uma pistola debaixo do travesseiro, foi com o filho Carluxo a um estande para dar uns tiros. Diversão que ele e seus zeros adoram.

Lá chegando, Bolsonaro se paramentou, pegou uma pistola, mirou num alvo vermelho e pum, puxou o gatilho. Nada aconteceu. Decepcionado ele disse: “Não está saindo”. Puxou o gatilho outra vez e nem barulho ouviu. Para diminuir o vexame, Carluxo, que é frequentador de estande de tiro, chegou por trás e disse baixinho: “Tira a trava pai”.

Bolsonaro continuou reclamando da arma. É que Carluxo se esqueceu que o pai estava com fones de ouvido justamente para abafar o ruídos dos tiros. Não escutou nada, claro. Foi a maior saia justa. O pessoal do estande correu, pegou a pistola, destravou e devolveu para Bolsonaro. Aí, sim, o presidente machão atirou como se fosse um expert.

Depois dessa experiência dá para entender porque Bolsonaro, ao ser assaltado, teve tudo levado pelo ladrão, até a arma. Não tinha ninguém para destravar a pistola.

FOTOS


1. Monark e Kataguiri

2. Propaganda do PCO no Twitter: defesa do armamento, como quer Bolsonaro.


3. Paes doou à família do congolês morto quiosque onde ele trabalhava, na Barra da Tijuca.


4. Filhote de tucano: tamanho que o PSDB poderá chegar, se continuarem as divergências internas.


5. Generais de Bolsonaro começam a se engalfinhar pela posição de vice na chapa.


6. Sequência de três momentos de Bolsonaro num estande de tiro: situação revelou que o fanfarrão não entende nada de pistola.

Luiz Eduardo Rezende é jornalista com passagem pelos jornais O Globo e O Dia, no Rio de Janeiro.

Matéria originalmente publicada na página Quarentena News. Os artigos aqui reproduzidos são de inteira responsabilidade dos autores.

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