Por Tião Nicomedes
A pequena Gabriela mora com a mãe num centro de acolhida. Desses, que abrigam famílias. Elas vieram acompanhar as atividades do #DiaNacionaleLatinoAmericanodeLutadaPopulaçãodeRua.
A sua mãe, que ficou meio desconcertada, resumiu a bronca que daria na filha, mais tarde, num tom de carinho:
“Tanto que eu falo prá essa menina ficar quieta no cantinho dela. Mas ela não tem jeito. ela nasceu prá brilhar, e brilha.
E não escondeu o sorriso, seu orgulho em ver a filhinha sendo aplaudida por todos os presentes na manifestação na #PraçadaSé. Causando a breve interrupção nos discursos inflamados dos participantes das lideranças dos # movimentossociais da #poprua.
Saímos em caminhada, e foi aí, numa parada no #PátiodoColégio… Gabriela contagiou mais ainda.
Foram se “aprochegando” as crianças dos acampados, ali, frente à #IgrejadoPadreAnchieta. O companheiro Darcy, do #MNPR -Movimento Nacional da População de Rua reforça o convite, convivemos com a grata surpresa e a satisfação de sermos auxiliados por jovens pedagogos. Eu diria que são.
Na verdade estudantes de faculdade e tantos coletivos, dando suporte. Não daria para nomear todos…
Um exército de ativista… Artivistas! Uma moçada fera.
Destaco a participação da #CooperativaReviravolta. Toda a equipe técnica e, principalmente, os catadores, provedores das folhas para confecção dos cartazes. Multiplicando as oficinas de arte, realizaram a coleta seletiva de frases e versos.
A operação Cata-Amor!
Assim, tocamos a banda, realizando atividades lúdicas. Produzimos cartazes ali, ao vivo e em cores.
Desenhos bolados na hora. Por quem se aventurou a arriscar uns traços… E e não é que deu muito certo?
Apareceram artistas de todas idades.
Os menores, acompanhados de seus pais, fizeram até a gente se esquecer, por momentos, o quão desumano é uma criança viver na rua…. Tendo o lar sob barracas…
Pensa aí, com seu juízo perfeito: pai, mãe, filhos vivendo no cubículo de uma barraca de camping. Ou improvisadas de lonas plásticas?
Sufoco!
E ainda tem gente que reclama de um, dois dormitórios em casas, em aptos. Reclama de kitnet.
Pensa: ter fogão, não ter chuveiro, não ter cama. Vai ver nem colchão. Isso em meio à #pandemia da #Covid-19, que requer #distanciamentosocial?
Era prá se desmanchar em lágrimas, não é mesmo?
Pois é, com a meninada testemunhamos o verdadeiro sentido da palavra gratidão.
Terminada intervenção no #PátiodoColégio seguimos a caminhada pela #RuaBoaVista. Uma parada na #SecretariaEstadualdoTrabalhoeHabitação. Uma mudança no trajeto e vamos até o #SindicatodosBancarios, que é deles o equipamento de som emprestado. Sempre parceiros, sempre prestativos.
Nessas e em outras ações, como as que acontecem na “QuadradosBancários, onde o #MEPR -Movimento Estadual da População de Rua serve, em média, 2000, almoços por dia desde o começo da #quarentena, numa iniciativa do incansável Robson Mendonça.
Depois a caminhada segue até o #EdifícioMartineli. A #Sehabs, e faz valer o slogan:
“Da rua querem nos tirar. Moradia e trabalho já!”
Descemos a ladeira e tornamos a pegar agora #RuaLiberoBadaró, com uma uma parada no edifício que sedia a #Smads – Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social. Em frente, nova parada frente à #UBS, e tome agradecimentos ao povo da saúde. Mais uns dez metros e enfim chegamos ao destino final: # PaláciodoAnhangabau.Prefeitura.
Tome gritar:
“Prefeito, cadê você? Tamos aqui, bora atender!
E não teve jeito, de novo, a interrupção:
Outra criança pedindo pra falar.
De novo conhecemos o sentido da palavra gratidão. Dessa vez, explicitada nas palavras de outra garotinha genial. Pensa numa menina encantadora. A pequena que pediu pra falar nos instantes finais das ações.
Microfone aberto, ela solta uma pérola dessas:
“Hoje foi o dia mais feliz da minha vida. Eu moro num lugar chamado de ocupação!
Agachado, o #PadreArlindo suspirou e foi logo perguntando:
“Dia mais feliz, da sua vida, mas por que? O que aconteceu pra você esta tão feliz?
“Aconteceu que eu me diverti bastante com minha mãe, com minha irmãzinha. Eu pude brincar, eu virei desenhista”, apontando o quadro que o Anderson do #MNLDPR – Movimento Nacional de Luta e Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua ajudava a segurar. E, mostrando pros manifestantes, diz: olha a pintura linda que fui eu que fiz agora.
Foi ovacionada. Arrancou risos e lágrimas de todo mundo.
Ela, ouvindo aquela multidão que chegou pra somar…
A galera do #SUS
Era a turma do #PSF, o Programa Agentes de Saúde da Família, reivindicando reajuste de salários e condições de trabalho.
Ah, o que seria do Brasil se não tivéssemos o #SUS?
O povo da saúde se desdobrando pra cuidar de tanta gente… Que seria desse país sem essa gente guerreira?
E a #poprua aproveita esse momento sublime, de união, para agradecer e homenagear pelos cuidados que tiveram, pelo carinho, pelas consultas, às vezes até ali mesmo, na rua, como o fazem os #agentesdesaúdna rua. A galera da #Bompar é um exemplo direto disso.
E, desse reforço gigante, a comissão #poprua enfim é atendida. É formada a comissão mista, unindo representes da saúde e do povo da rua.
Mais aplausos. Gritos de guerra. Místicas, cantorias. Tudo.
Privilégio, esse ano, fiz diferente. Eu, que sempre participava bradando aos quatro cantos, eu berrava mesmo, de estourar a Pipoqueira (carrinho de som que lembra carrinho de pipoca) e tem uma potência de fazer tremer até os postes…
Justo esse ano, eu fiquei com a incumbência de tocar as oficinas de cartazes. E dou uma sorte dessas! Foi incrível, fascinante.
Bem que Jesus, disse:
“Vinde a mim as criancinhas.”
Ah, se a gente pudesse manter, por toda a vida, a pureza desses anjinhos….
E viva o #SUS.
E viva a #poprua.
E viva os #catadores.
E viva os #trabalhadoressemteto.
E viva eu, viva tu, pequena Gabriela, que mora com sua mãe num…
Deus, meu!
Que dia foi aquele? Uma família. Mães com filhos e coisa e tal.
Talentosa de impressionar.
Assim, a pequena Gabriela abriu a participação das crianças no evento. Brincando com gente grande sem saber que lutava uma luta gigante.
É preciso salvar a criança da situação de rua hoje para que ela não se torne um adulto de rua amanhã. E vier a envelhecer no relento do futuro incerto.
Sebastião Nicomedes de Oliveira é “poeta das ruas”. Autor da peça teatral Diário de um Carroceiro e do livro As Marvadas é artista popular. Ex-catador e ex-morador em situação de rua, integra o MIPR (Movimento Internacional de População em Situação de Rua).