Por Adriana do Amaral
Ou seria censura?
Lembro-me das histórias do recenseamento. No passado, eram verdadeiras aventuras Brasil afora. Hoje, uma desventura.
O censo de 2000 nos mostrou um novo Brasil, digitalizado, com recenseadores treinados, ágeis. Rapidinho, o universo brasileiro era mensurado.
Deu saudades daquelas histórias contadas, quando o pesquisador do #IBGE era recebido com café, bolo e um dedo de prosa, como uma visita. Tinha até campanha publicitária mostrando que o recenseador era amigo do povo brasileiro! Em 2000, respondi à pesquisa no saguão do prédio.
Relembro aqui uma história de uma amiga, universitária, Ana Maria, vivida na década de 1980. Uma princesa rebelde, tão linda e revolucionária que era, mas todos os sonhos foram atropelados por um caminhão, vindo na contramão de uma estrada rural. Ela, no volante do fusquinha não resistiu, junto do pai e mãe idosos.
Ana adorava integrar à equipe do Censo, o que garantia a ela um dinheirinho enquanto se preparava para o vestibular de engenharia. Entrou numa das mais importantes do Brasil, mas também passou num concurso público e seguiu o seu curto caminho de vida.
Entre um questionário e outro, ela abria sacolas e desvelava o seu brechó ambulante. Vendia roupas usadas, arrecadas nos armários da parentada e vizinhança. A comunidade rural do interior paulista adorava, pois a mercadoria ia até onde a demanda estava.
Mais sobre nós
Para que serve o Censo? Para nos aproximarmos uns dos outros. Afinal, é através dele que descobrimos quem somos enquanto país. Quem somos, onde estamos, como podemos melhorar e para aonde queremos ir.
Políticos sérios utilizam-se das informações do Censo para pensar políticas públicas nacionais, que vislumbrem necessidades reais. Afinal, é uma ferramenta que mostra os cidadãos e suas diversas necessidades, Sejam elas sanitárias, educacionais, de saúde, culturais e de mobilidade.
Os números do Censo são fundamentais para investimentos públicos e privados. Também, referência para acadêmicos, pesquisadores, jornalistas etc..
Haberemos Censo?
Nos últimos dias acompanhamos a polêmica em torno de mais uma briga judicial, que deve dar muito pano para manga… O presidente do Brasil cancelou o Censo Demográfico justificando não ter verba para tal. O governador do Maranhão Flavio Dino (PCdoB-MA) entrou com uma ação judicial no #STF, alegando que cancelar o censo por uma decisão administrativa contraria a Constituição Federal. Na quarta (29), o Ministro Marco Aurélio Mello deferiu a liminar e determinou a imediata realização do Censo.
O Censo deveria ser realizado ao longo de 2021, foi prorrogado para início de 2022, cancelado e agora deve entrar no calendário nacional, se nenhum outra decisão alterar o calendário. O Ministério da Economia afirma não haver previsão orçamentária para realizar o levantamento censitário, mas foi o próprio governo que cortou 95% da verba destinada para a realização do Censo.
Nesse Brasil pandêmico, o que o governo federal quer esconder? O que pode ser pior do que o desconhecimento da realidade nacional? Seria o temor da campanha política do ano que vem?
Vivemos tempos de ampla desemprego, onde o brasileiro comum teme mais a fome do que a #Covid-19. O Censo poderia ser uma ferramenta de geração de renda, talvez uma imensa “frente de trabalho” levando um pouco de esperança para alguns lares Brasil afora.
Em 2020, mais de 190 mil pesquisadores trabalharam no Censo. Eles visitaram a população de 5.565 municípios.