O Brasil se despede da militante Clara Charf

Da Redação com informações de Paulo Cannabrava 

Clara Charf construiu trajetória de defesa da democracia, dos direitos e dos avanços sociais. Era viúva do combatente Carlos Marighella

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva rendeu homenagem à Clara Charf, militante filiada ao PT, e viúva de Carlos Marighella. Ela faleceu aos 100 anos.

“Clara Charf nos deixou hoje, aos 100 anos de idade. Com seu falecimento, o Brasil perde uma mulher extraordinária. E eu perco uma companheira de muitas caminhadas. Corajosa, generosa, combativa e de grande maturidade política, Clara viveu o exílio, enfrentou a ditadura e defendeu incessantemente a democracia.

Atravessou seu século de vida com uma flexibilidade bonita de quem sabia compreender o novo sem abandonar seus princípios, de quem olhava o mundo com lucidez e coração aberto.

Convivi com a Clara por mais de 40 anos. Aprendi muito com ela sobre política, solidariedade, resistência e humanidade.

E hoje me despeço dela com carinho, respeito e gratidão a essa grande brasileira que tanto fez pelo nosso país e por todos nós que tivemos a sorte de tê-la por perto.”

Clara e a luta contra a ditadura e pelos direitos das mulheres

Clara Charf teve um papel fundamental na resistência à ditadura militar e na construção da democracia brasileira.

Lutou contra a repressão ao lado de Carlos Marighella e enfrentou o exílio, sem nunca abandonar seus ideais.

Mas Clara também foi protagonista nas lutas feministas e pacifistas. Presidiu a Associação Mulheres pela Paz, um movimento que articulava mulheres em defesa da justiça social, dos direitos humanos e da não violência.

Esse trabalho lhe rendeu reconhecimento internacional: Clara foi uma das mil mulheres de todo o mundo indicadas coletivamente ao Prêmio Nobel da Paz em 2005, como símbolo da luta silenciosa e perseverante das mulheres pela paz.

Foi uma honra merecida e um testemunho do alcance de sua atuação.

Clara Charf e Carlos Marighella reunidos em família. (Foto: Arquivo Pessoal)

Um legado de dignidade e coerência

Seu legado é o de uma vida inteira dedicada à justiça, à igualdade e à liberdade.

Clara Charf simboliza a coragem de quem resiste sem perder a ternura. Deixa como herança o compromisso com a memória, com a verdade histórica e com o protagonismo das mulheres na transformação do mundo.

O fato de ter sido indicada ao Nobel da Paz junto a outras mulheres é uma prova de que sua ação ultrapassou fronteiras. Ela acreditava que a paz verdadeira só se constrói com justiça social, e é essa visão que inspira gerações até hoje.

Uma vida de luta e afeto

Clara era uma mãezona. Do tipo que acolhe, que cuida, que abraça — mas também que orienta, que puxa pela coragem.

Era uma mulher doce, mas de convicções muito firmes. Não é fácil ser companheira de um combatente como Carlos Marighella.

Eles formavam uma dupla de luta, de sonho e de enfrentamento. E não é fácil, tampouco, viver na clandestinidade, longe de casa, da rotina, com medo constante de uma batida ou de uma prisão. Ela enfrentou tudo isso com altivez e solidariedade.

Mesmo nos anos mais duros do exílio, Clara manteve a dignidade e o senso de missão. Mais do que uma militante, ela era aquela que dava estrutura emocional ao entorno.

Era uma mulher que cuidava das pessoas ao seu redor, mas também puxava todas e todos para a luta. Uma liderança silenciosa, mas indispensável. O Brasil teve o privilégio de contar com uma mulher como ela.

Contribuição para o Construir Resistência ->

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *