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Merval e o bilau do Lula

Por Antonio Soares

O jornalista e imortal Merval Pereira no último domingo também não resistiu às coxas atléticas do Lula e escreveu sua coluna com o título “As coxas do Lula” *, Ele, ao estilo Nelson Rubens**, foi investigar a produção da foto de Lula com Janja, sua atual companheira, no luar da Praia do Pico no Ceará e motivo de grande furor nas redes sociais das/dos lulistas de plantão. A foto produzida pelo fotógrafo profissional Ricardo Stuckert, atesta Merval, se trata de uma peça de propaganda política e não uma cena de afeto entre apaixonados.

A descrição “paraetnográfica” deMerval, do contexto registrado na noite de luar cearense, tem por finalidade demonstrar que Lula está em campanha. Em síntese, Merval quer provar que não há nada de espontâneo ou casual na suposta foto postada no Instagram.  Entre apuração e a especulação descreve o aparato policial que cercava a casa do governador Camilo Santana, a presença constante do fotógrafo Ricardo Stuckert em suas movimentações e a montagem fotográfica que tinha como moldura a bela noite de luar nordestino.

O desenrolar do enredo na sua coluna vai descambar para os efeitos que a dita fotografia intencionava produzir. Lula se apresenta atlético, de sunga, com boné esportivo para esconder os cabelos prata, segundo Merval. Faltou ele escrever que estava abraçado com a mulher, cena nunca registrada de Bolsonaro nesses dois anos e meio de governo. Por sinal, Bolsonaro passou algumas datas comemorativas, como carnaval e final de ano, afastado da Michele  e cercado por seus filhos numerados com constante presença de Hélio, o deputado federal dublê de segurança do presidente e papagaio de pirata.

Merval para provar a tese que a foto é política, o que anuncia como uma inédita descoberta dele, vai buscar exemplos de políticos que se apresentaram como atléticos, viris e saudáveis, não exatamente nessa ordem. Lembra de Putin cavalgando em pelo para divulgar sua virilidade, Color fazendo esportes radicais para se apresentar como jovem e, a partir daí, começa a desfiar o novelo da polarização entre Bolsonaro e Lula.Lembra que Bolsonaro se apresentou diante da pandemia, ou da gripezinha, como imune por ter um histórico de atleta. Merval faz questão de lembrar, que mesmo antes da facada e com menos 10 anos que Lula, o “mito da esquerda”, se mostra corporalmente superior com suas “coxas saradas”.

Qual o jogo de Merval com essa análise das pernas do Lula e dos cambitos desequilibrados do atual presidente? O jornalista, em sua militância política no jornal e quase diária na Globo News, alinhado aos desejos de seu patrão, pretende demonstrar que tanto Bolsonaro quanto Lula, “mitos em oposição nas extremas”, são nocivos ao desenvolvimento do Brasil que ele deseja, é claro.  Tenta demonstrar que tanto Lula quanto Bolsonaro flertam com líderes autoritários e antidemocráticos, apenas com sinais trocados. Diz que ambos, cada um ao seu jeito, desvalorizam, minimizam ou atacam o STF. Tenta também demonstrar que as semelhanças não param aí, Bolsonaro ataca a mídia e Lula fala em regulá-la. Esse é o medo das Organizações Globo que detêm o monopólio da informação no país, pois, poucos países do mundo possuem a centralização da informação nas mãos de cinco famílias.  Esse é o motivo da defesa incondicional da total desregulamentação do mercado. Todavia, regular o mercado das mídias, não significa regular a liberdade de expressão. São coisas diferentes que Merval tenta, por trás das coxas do Lula, esconder.

Como sabemos, bom sensacionalismo de propaganda política, como se presta regularmente Merval em suas colunas, vem sempre acompanhado de ameaças. Ele diz explicitamente, admitindo a realização das eleições, que a vitória tanto de um quanto do outro, pelo voto popular, fará o vencedor mais forte para dobrar a aposta autoritária do próximo governo. “[E]nquanto isso, Diógenes, com sua lamparina, continua procurando um ‘homem honesto’. No Brasil procura-se uma terceira via”, arremata Merval.

Mas, se o leitor leu o jornal de domingo até a quarta página, pôde constatar que as Organizações Globo possuem pelo menos um nome para a terceira via. Realizou uma entrevista com Rodrigo Pacheco, que ocupou uma página inteira com uma elegante fotografia do presidente do Senado, de perfil, de terno, de pernas cruzadas (e não expostas), totalizando quase 2/3 da página. A entrevistadora Julia Lindner e seus parceiros, Paulo Cappelli e Thiago Bronzatto, perguntam, diretamente, se Rodrigo Pacheco se vê como um potencial candidato de centro? Como bom político mineiro, Pacheco não diz não e nem sim, mas ponderou que esse não é momento para candidaturas ou campanha. Mas, pelo jeito, não custa antecipar nomes que não mexam nos negócios da família Marinho.

Voltando às coxas do Lula. Merval diz que o próprio Bolsonaro contou em certa ocasião que, como tinha as pernas finas, ao seu nome no exército foi acrescido o apelido de “palmito”, e nosso imortal arremata, “olha aí a diferença com Lula, mais uma vez”. A militância de Merval é demonstrar que Lula e Bolsonaro, apesar da maior vitalidade corporal e política do primeiro, são farinha do mesmo saco. Por falar em saco ou perto dele, Merval escreve, “E não foi só sua coxa musculosa que chamou a atenção dos fãs. Estava de sunga, e houve até quem comemorasse, sob ela, o pressentido bilau do Lula.” Com uma psicanálise de botequim da qual sou adepto e praticante, claro que depois de meia dúzia de cervejas, diria que Merval, com seu jornalismo chapa branca, tem desejo e inveja do pênis do Lula que está penetrando até entre políticos de centro.

Notas do autor

* https://blogs.oglobo.globo.com/merval-pereira/post/coxas-de-lula.html

** Jornalista de Fofocas dos Famosos.

 

Antonio Soares é professor titular da UFRJ.

 

 

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