Por Alex Solnik
Getúlio saiu da vida para entrar na história; Bolsonaro saiu da história para entrar na cadeia.
O indiciamento de Bolsonaro no caso da falsificação dos cartões de vacina é apenas a ponta de um enorme iceberg.
A Polícia Federal está apurando, segundo o relatório do indiciamento, divulgado ontem, algo muito maior, “a articulação de pessoas, com tarefas distribuídas por aderência entre idealizadores, produtores, difusores e financiadores, com atuação em cinco eixos até o presente momento”: 1) ataques virtuais a opositores; 2) ataques às instituições (STF, TSE), ao sistema eletrônico de votação e à higidez do processo eleitoral; 3) tentativa de golpe de estado e de abolição violenta do Estado Democrático de Direito; 4) ataques às vacinas contra a covid-19 e às medidas sanitárias da pandemia e 5) uso da estrutura do Estado para obtenção de vantagem, que se subdivide em: uso de suprimentos de fundos (cartões corporativos) para pagamento de despesas pessoais; inserção de dados falsos de vacinação contra coid-19 nos sistemas do ministério da Saúde para falsificação de cartões de vacina e desvio de bens de alto valor entregues por autoridades ao ex-presidente Jair Messias Bolsonaro ou agentes a seu serviço e posterior ocultação como forma de enriquecimento ilícito”.
Nunca, na história do Brasil, um presidente eleito democraticamente foi acusado de comandar tantos crimes e com provas tão abundantes, enxovalhando o cargo e envergonhando a todos os brasileiros.
Será o maior julgamento do STF desde a sua fundação.
Pela primeira vez um presidente será julgado por uma coleção inédita de crimes, dentre os quais o mais grave é o do golpe de estado.
No fim do processo, será condenado a uma pena alta, também inédita no que diz respeito a presidentes da República.
Sua carreira política acabou. Nunca mais será candidato a nada. Inelegível para sempre.
Sua influência também vai se apagar em breve, à medida que fique mais claro para a população que se trata de um criminoso serial da política brasileira. Apoio de um “criminoso serial” dá voto?
Perto dos crimes de Bolsonaro, o mar de lama de Getúlio era Lago dos Cisnes.
Getúlio saiu da vida para entrar na história; Bolsonaro saiu da história para entrar na cadeia.
Alex Solnik é jornalista