Por Júlio Benchimol Pinto
Foto: Bruno Peres- Agência Brasil
O presidente brasileiro fala de um país que, entre a floresta e o barril, tenta escolher a espécie.
Belém, calor de 40 graus, COP da “verdade”. Lula sobe ao púlpito e diz o óbvio que o mundo finge não ouvir: o aquecimento global é filho legítimo da desigualdade. O mesmo sistema que concentrou riqueza cavou o buraco climático onde agora todos suamos.
Mas, por uma vez, o discurso não parou no microfone. Nasceu o Fundo de Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) – ideia simples e subversiva: pagar por floresta em pé como se paga por petróleo no chão.
Hospedado pelo Banco Mundial, o fundo mistura capital público e privado, promete até 8% de retorno, e reserva 20% dos lucros a povos indígenas e comunidades locais – US$ 4 por hectare protegido.
Já há US$ 5,5 bilhões em compromissos: Noruega, França, Indonésia, Brasil e Portugal abriram os cofres. Meta: US$ 125 bilhões.
Nada disso é caridade. É realpolitik verde. E aqui está o golpe de gênio: Lula não pediu doações, criou investimento. Não apelou à culpa europeia, apelou ao instinto financeiro global – a única língua que Wall Street e Oslo falam fluentemente.
Os negacionistas, claro, esperneiam. Chamam de “teatro climático”, “utopia socialista”, “marxismo ecológico”. Mas o real delírio é fingir que o planeta ainda aguenta mais uma década de sarcasmo. A física não negocia. O dióxido de carbono não vota. E a ironia não sequestra calor.
Sim, o mesmo governo autorizou perfurações na Margem Equatorial – contradição que incomoda. Mas, neste caso, não é hipocrisia: é diagnóstico. O Brasil tenta financiar o futuro sem desligar o presente, tropeçando no dilema que nenhuma nação resolveu.
Enquanto isso, o pavilhão da COP ainda tinha banheiros sem água e ar-condicionado desligado – símbolo perfeito do nosso tempo: discutimos o planeta enquanto derretemos dentro dele.
No fim, o mérito é inequívoco: Lula recoloca o Brasil no mapa moral e geopolítico do clima. Ele fala de um país que, entre a floresta e o barril, tenta escolher a espécie.
O negacionismo é o novo analfabetismo. E o TFFF, com todas as suas incertezas, é o primeiro plano de alfabetização planetária em séculos.
O futuro custa caro – mas a inação custa o planeta.









