Histórias da Boca do Lixo repaginadas

Boca Do Lixo

Por Simão Zygband

Boca Do Lixo

Escrevo esta crônica em homenagem in memorian ao querido poeta e jornalista Julio Saraiva, que no extinto jornal Notícias Populares, escrevia uma coluna, a Notícias da Boca, que era produzida exatamente no dito lugar, a Boca do Lixo, no prédio da Folha de S.Paulo, próximo de onde hoje se localiza o núcleo duro da Cracolândia, um reduto de moradores de rua onde parte deles (me arriscaria dizer a maioria) é consumidora de crack, uma droga devastadora produzida a partir da cocaína na qual é acrescentado bicarbonato de sódio ou amônia e água. Torna-se o que eles se habituaram a chamar, na gíria do pedaço, o composto como “pedra”. Em geral é fumado em cachimbos ou misturado a maconha ou tabaco.

A Boca do Lixo se notabilizou por várias características, que foram mudando ao longo do tempo. Era um boulevard encravado em um quadrilátero da cidade de São Paulo, próximo à estação de trens da Luz, no bairro de mesmo nome (hoje também já tem uma de metrô), cuja expressão foi cunhada pela imprensa policial da época, devido a frequência de personagens que eram vistos pela sociedade como marginais, prostitutas, cafetões, bandidos etc, que atuavam nos Campos Elíseos, na Santa Ifigênia e adjacências.

Mas as Boca começou a se notabilizar antes mesmo da chegada da fina flor malandragem e do baixo meretrício, que afluíram à região fugindo da repressão que a polícia realizava contra os prostíbulos situados na rua das Tabocas, no Bom Retiro, bairro muito próximo, este certamente o embrião da exploração da prostituição, que atraía todo tipo de frequentador a procura de sexo e aventuras.

Nos anos 20 e 30, a Boca do Lixo caracterizou-se por ter abrigado um polo cinematográfico, quando empresas como a Paramount, Fox e MGM se fixaram por lá trazendo junto distribuidoras, fábricas de equipamentos especializados, serviços de manutenção técnica e outras empresas do ramo cinematográfico para as redondezas. Assim, entre o fim dos anos 60 e o começo dos anos 80, a Boca do Lixo tornou-se um reduto do cinema independente brasileiro. Muitos cineastas como José Mojica Marins (o Zé do Caixão), Carlos Reichenbach, Rogério Sganzerla, Walter Hugo Khouri ou Julio Bressane se notabilizaram com produções nascidas no quadrilátero, mas a produção da Boca ficou mais popularizada pela produção de filmes baratos e com forte apelo sexual, sobretudo a pornochanchada. Filmes de sexo explícito eram terminantemente proibidos pela ditadura militar.

Como tudo isso se transformou na Boca do Lixo e na Cracolândia, você lê posteriormente em Construir Resistência.

Boca ....As filmagens do Cinema Novo

 

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Simão Zygband é jornalista, editor do site Construir Resistência, com passagens por jornais, TVs e assessorias de imprensa públicas e privadas. Fez campanha eleitorais televisivas, impressas e virtuais, a maioria vitoriosas.

 

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