Por Nabil Bonduki
As enchentes sem precedentes do Rio Grande do Sul evidenciam o que vem sendo alertado há tempos: as consequências da emergência climática, que precisa ser levada a sério, assim com o planejamento urbano, físico e territorial.
A cidade de Porto Alegre era uma das mais preparadas para evitar enchentes. Mas o predomínio de uma visão neoliberal de redução do Estado, por falta de manutenção e cautela, causou a deterioração do sistema de proteção que existe na cidade.
Para esclarecer essa situação, transcrevo o depoimento do Carlos Atílio Todeschini, ex-diretor do Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) e da Departamento Municipal de Águas e Esgotos (Dmae) de Porto Alegre. É longo, mas leiam até o fim, pois é importante para entender o que está acontecendo no RS:
“Porto Alegre tem o melhor sistema de proteção contra cheias do Brasil. Este é composto, por diques, casas de bombas, o muro da Mauá, comportas de superfície e de gravidade, e ainda a estrutura predial da Usina do Gasômetro. É um complexo que representa investimentos que ultrapassam um bilhão de dólares construídos em várias décadas, desde a enchente de 1941.
Porém o colapso acontece porque os serviços básicos de manutenção não foram feitos. E aí pelo menos duas comportas não resistiram à pressão da água e foram a pique. Comportas com as estruturas enferrujadas, corroídas, emperradas, sem graxa, pintura etc, a ponto assistirmos uma delas, da região central, sendo acionada pela tração motora de uma máquina retroescavadeira.
Nabil Bonduki é arquiteto, urbanista e doutor em Estruturas Ambientais Urbanas pela Universidade de São São Paulo, onde leciona atualmente