Capitalismo digital desafia a organização coletiva

Por Adriana Dweck

Pesquisas recentes indicam que mais de 80% dos moradores de periferias atribuem a melhoria de vida exclusivamente ao esforço individual, à sorte ou à intervenção divina.

O papel do Estado e dos movimentos sociais é raramente mencionado. Esse dado revela a consolidação de uma subjetividade moldada pelo imaginário liberal, em que a responsabilidade pelo destino recai sobre o sujeito isolado.

Essa transformação acompanha o enfraquecimento das formas coletivas de organização, como sindicatos, partidos e movimentos sociais, e reforça a visão individualizante da ascensão social justamente quando os mecanismos coletivos de proteção e luta foram desmontados.

Diante desse quadro, apresenta-se a tarefa de investigar onde ainda persistem processos coletivos de organização e resistência.

Não se trata apenas de um problema sociológico, mas também filosófico: como se forma a subjetividade em uma era governada por algoritmos e plataformas digitais?

É preciso perguntar até que ponto essa subjetividade, moldada pelos fluxos algorítmicos do capitalismo digital, pode ser transformada de modo a incorporar, no horizonte do “General Intellect”, formas de trabalho coletivo e não atomizado.

O conceito, elaborado por Marx e desenvolvido por Antonio Negri, aponta para a inteligência social como força produtiva central no capitalismo cognitivo.

Mas surge o dilema: estaria o trabalho em rede já totalmente subsumido ao regime algorítmico das plataformas, fragmentando os sujeitos e inviabilizando sua organização autônoma?

Ou ainda restam brechas pelas quais o trabalho vivo pode, como propõe Negri, exceder essa captura e constituir novas formas de hegemonia política e social a partir da potência criativa da multidão?

Adriana Dweck é filósofa 

Contribuição para o Construir Resistência ->

Resposta de 0

  1. Quem sabe tenha chegado o momento de, num esforço épico, retornarmos ao PANFLETO impresso distribuído pessoalmente, olhos nos olhos, com debate presencial. Militância home office está sujeita a indesejáveis filtros & invisíveis interferências. Temos nas mãos os terminais mas, o capitalismo sionista controla o cérebro da Matrix, dos bancos ao senado passando, indecorosamente, pelas igrejas e, o mais grave, pela grande MÍDIA hegemônica ocidental. Também não devemos desconsiderar, como prova a história, que é impossível fazer revolução sem pisar no gramado dos palácios, retomar às saudosas pichações bem localizadas, com mensagens diretas e cortantes como traziam muitos “lambe-lambes”. Pode até parecer primitivo mas, diante da barbárie anunciada, a inércia é a pior resposta. Parabéns, Adriana, pela abordagem e análise desse indigesto mas IMPRESCINDÍVEL tema !

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *