Por Simão Zygband
Há cerca de um ano, o Imperial College London, um respeitado centro de pesquisas inglês, divulgou um estudo prevendo que no Brasil deveriam morrer cerca de 1 milhão de pessoas.
Não é necessário dizer que esta previsão foi totalmente ignorada e aqueles que ousaram divulgar esta quantidade catastrófica foram amplamente hostilizados.
Pior que isso, o governo do capitão reformado, Jair Bolsonaro (sem partido), não apenas desdenhou da informação, como agiu contrariando todos os protocolos: chamou o Covid-19 de “uma gripezinha, um resfriadinho” ( depois tentou desmentir que havia dito isso), atacou a imprensa alegando que ela era alarmista “não é tudo isso que a grande mídia propala”, disse que o Brasil deveria deixar de ser “um país de maricas”, por querer o confinamento, entre tantas outras barbaridades.
Em outro vídeo, Bolsonaro debocha de quem havia adquirido a doença: “estou com Covid, estou com Covid”, diz rindo o sádico mandatário. Também é de sua mente doentia frases lapidares como “ todos nós vamos morrer um dia. Aqui todo mundo vai morrer”, o “E daí? Eu não sou coveiro! “Vocês vão ficar chorando até quando?” disse ele.
Para ajudar na propagação acelerada do vírus, incentivou a não utilização das máscaras protetoras e, pior, fez apologia de um medicamento ineficaz contra a doença, a hidroxicloroquina e destinou R$ 250 milhões para a sua produção e distribuição. A maioria das cidades já não possui leitos para internação ou UTI.
Em contrapartida, deixou de comprar as vacinas, que lhes foram ofertadas em agosto do ano passado, dizendo que não a iria tomar e que ela fazia “nascer barba nas mulheres”. Mesmo assim, a sua própria mãe recebeu o imunizante.
Com o atual ritmo de vacinação, o Brasil será capaz de dar a primeira dose a todos os brasileiros até novembro de 2023. Essa conta não leva em consideração o crescimento populacional, o que estenderia o esforço até o início de 2024.
Fora de controle
A postura do governo Bolsonaro conseguiu construir um caos na saúde sanitária do Brasil. O próprio Imperial College London observou que a taxa de transmissão da Covid-19 chegou esta semana ao patamar mais alto observado em 2021. Os dados mostram que o chamado Rt — uma média de quantas pessoas um indivíduo com o vírus é capaz de infectar – atingiu 1,23, contra 1,13 do registro anterior.
Na prática, se antes 100 pessoas infectadas transmitiam o vírus para outras 113, agora, as mesmas 100 podem passá-lo para 123.
As estimativas do Imperial College encontram respaldo na realidade. A média diária de novas infecções pelo coronavírus disparou nas últimas duas semanas no país, chegando ao recorde de 71.443 no último dia 13. O mesmo tem ocorrido com as médias diárias de mortes, que já beiram a casa das 3 mil.
O Brasil já é o segundo país do mundo em número de casos de Covid, atingindo a casa dos 11 milhões e 700 mil infectados, tomando este lugar da Índia. Os norte-americanos ainda detém os maiores números, com 30 milhões de casos, com 550 mil mortes. O Brasil vem em seguida, com 285 mil.
Ao contrário daqui, os EUA estão vacinando com bastante velocidade a sua população, ao contrário de Bolsonaro, que imunizou apenas 5% de seus cidadãos. Isso tem ocasionado a queda da mortalidade naquele país.
O Brasil, neste ritmo, não apenas atingirá a trágica marca de 1 milhão de mortos, previsto inicialmente pelo Imperial College, como também se transformará na nação onde a Covid-19 mais matou pessoas no mundo. Em termos proporcionais, pois a população norte-americana é de 328 milhões de habitante (contra 220 milhões de brasileiros), o país já é o primeiro lugar.
Triste realidade.
obs: imagem de meme que circulou na internet