As polícias sanguinárias de São Paulo e da Bahia

Por Simão Zygband

O final de semana foi extremamente sangrento em São Paulo e na Bahia. E envolveu Polícias Militares pertencerem a estados governados por um bolsonarista e um petista.

Disse um amigo petista de São Paulo através de mensagem de whatsapp: “É o Faroeste Caboclo. Não dá para aceitar, normalizar operações policiais onde ocorram 10 mortes (agora são 14) em São Paulo e outras 15, desde sexta-feira, na Bahia sob gestão de governador petista. E o que você me diz sobre a Bahia governada pelo PT? Vamos relativizar, passar pano”?

Respondi para ele: “O governo do PT baiano tem que intervir na PM baiana. Eles agem como estado paralelo. Mas não sei se o Jerônimo (governador) tem força para depurar a corporação. Foi na Bahia, inclusive, que “queimaram o arquivo” do Adriano de Nóbrega, líder do grupo criminoso Escritório do Crime, envolvido no assassinato da Marielle Franco. Uma triste atuação da polícia baiana que ficou sem explicação”.

Então ele respondeu” Sim. Na Bahia, houve a versão de que os assassinados tinham armas. Elas são versão da PM. Dá pra acreditar? Pelo número de mortos, parece execução. Nenhum PM ferido. Estranho, né? Não sei se o governador mandou apurar. De todo modo, a PM é igual em todos os lugares. São jagunços fardados”.
Confesso que tudo isso criou um zum zum zum nas redes sociais. Muitos petistas (e sobretudo psolistas) apontando o dedo para o governador Jerônimo Rodrigues, que sucedeu na Bahia a Rui Costa, atual ministro da Casa Civil do governo Lula.
Dei-me ao trabalho então de analisar os casos com um pouco mais de cuidado. Evidente que a minha tendência é defender o governo petista, inclusive o da Bahia. Mas não dá apenas para defender por defender.
Então fui ler a matéria publicada no G1 sobre o incidente naquele estado. Apesar de ser um número alarmante, as 15 mortes ocorreram em locais diferentes: oito delas na zona rural de Itatim, cidade a cerca de 214 km de Salvador e as outras sete em Jauá, na cidade de Camaçari, região metropolitana de Salvador.
Na primeira ocorrência foram apreendidos uma quantidade de drogas e armas e na segunda, um forte e pesado arsenal. Não são motivos para justificar as chacinas.
Armas e drogas apreendidas em Itatim (BA)
Armas apreendidas em Camaçari (BA)

Já as mortes de São Paulo aconteceram em uma única cidade, no Guarujá, litoral paulista,  ocorridas durante a chamada Operação Escudo, realizada após o assassinato do soldado Patrick Reis da equipe Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota) durante patrulhamento, ocorrido na última sexta-feira.

Bira Dantas

São agora 13 mortos, muitos deles sem passagens pela polícia  Ao comentar o caso, governador de São Paulo, Tarcisio de Freitas, afirmou estar “extremamente satisfeito” com a ação. Para justificar o morticínio, a polícia paulista diz que apreendeu 32 kg de drogas.

A Anistia Internacional Brasil se pronunciou sobre o caso do Guarujá: “O nome disso é chacina. E, pior, patrocinada pelo Governo do Estado. Segundo moradores e a Ouvidoria da Polícia, são, pelo menos, dez mortos na ação de extermínio (subiu para treze), alguns possivelmente inocentes, que tinha o pretexto de encontrar o assassino do soldado Reis, da Rota, na última semana”, revela a nota da entidade.
Não é segredo para ninguém que as Polícias Militares dos Estados são corporações que atuam sem controle, muitas delas implantando um clima de medo, principalmente contra a população mais pobre. Agem como grupos de justiceiros, adotando a pena de morte e tocando o terror nas periferias das grandes e médias cidades brasileiras. Arriscaria a dizer que todas elas apresentam problemas semelhantes, com policiais violentos, corruptos, sanguinários.
O quadro se tornou muito pior com a eleição do genocida Jair Bolsonaro. Polícia, milícia, narcotráfico, esquadrões da morte e crime organizado convivem juntos e misturados. Os anos bolsonaristas, quando se difundiu o uso indiscriminado de armamentos, também conferiu aos agentes de segurança uma espécie de licença para matar. O número de chacinas explodiu e os confrontos entre PMs e supostos bandidos não parou de crescer. O governo fascista se elegeu exatamente com o discurso do endurecimento da segurança pública. O eleitor de Bolsonaro acreditava, no seu inconsciente, que esta opção ideológica, de incriminar as vítimas do modelo excludente iria ser suficiente para colocar ordem na criminalidade. Total engano.
Mas comparar o governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas com o do petista Jerônimo Rodrigues na área de segurança púbica é, no mínino, agora de má fé. Não se pode acreditar que no governo do PT haja uma licença para matar como há no dos fascistas. Enquanto Tarcísio incentiva a chacina de pobres (“extremamente satisfeito” com a ação que culminou com a morte de 14 pessoas, onde ele achou que não houve “hostilidade” ou “excesso” nas abordagens da polícia). O petista, quando muito, não controla a sua polícia, que ainda age às sombras do bolsonarismo, muitas vezes até tentando atuando para prejudicar o governo do PT.
Precisa se ter muito cuidado para não comprar o discurso fácil da direita, que gosta de colocar todo mundo no mesmo balaio, como se governos fascistas e petistas fossem iguais.

Simão Zygband é jornalista profissional desde 1979. Trabalhou em TVs, rádios e jornais de São Paulo, onde foi respectivamente pauteiro, repórter e redator. Foi funcionário das TVs Bandeirantes, SBT, Gazeta, Record e dos jornais Notícias Populares, Diário Popular, Diário do Grande ABC , Diário do Comércio, entre outros. Foi coordenador de Comunicação no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (onde editou o Jornal Unidade) e redator do jornal Plataforma do Sindicato dos Metroviários de São Paulo. Também fez assessoria de comunicação em campanhas eleitorais e mandatos parlamentares. Trabalhou na Comunicação de Secretaria Municipal de Transporte de São Paulo. Foi diretor da Rádio e TV Educativa do Paraná e Secretário Municipal de Comunicação da prefeitura de Jacareí, São Paulo.

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