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Foto: Arquivo Pessoal

As Olimpíadas entre a pandemia e a bomba em Hiroshima e Nagasaki

Por: Francisco José Nunes

A cerimônia de encerramento das #OlimpíadasdeTóquio, prevista para o dia 8 de agosto, acontecerá dois dias após a data da explosão da bomba atômica em #Hiroshima e um dia antes da data da explosão da bomba atômica na cidade de #Nagasaki. São 76 anos deste acontecimento trágico.

O Presidente do #ComitêOlímpicoInternacional (COI) Thomas Bach visitou a cidade de Hiroshima no dia 16 de julho de 2021, sob protestos de lideranças locais e de movimentos pacifistas. O presidente do COI alegou que sua visita era um gesto a favor de “um mundo pacífico e sem armas nucleares”. Entretanto, uma das lideranças locais afirmou que, em plena #pandemia:

“Manter as Olimpíadas na situação atual, onde muitas vidas são perdidas, vai contra o espírito dos jogos, que deveriam ser um festival de paz”, disse Kunihiko Sakuma, líder de um grupo de apoio aos “hibakusha” (sobreviventes dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki).

Até o dia 11 de julho de 2021 o Japão havia registrado 14.943 pessoas mortas pela #Covid-19, com um total de 828 mil infectados. O número de pessoas vacinadas até julho de 2021 era de apenas 18% da população. Pesquisas realizadas até julho, registraram uma taxa de 60% a 80% dos japoneses contrários à realização das Olimpíadas.

Um episódio lamentável relacionado a essa olimpíada ocorreu após a derrota do surfista brasileiro Gabriel Medina, para o surfista japonês Kanoa Igarashi. Muitos torcedores brasileiros, alegando que os juízes beneficiaram o atleta japonês em detrimento do atleta brasileiro, disseram que a bomba atômica em “Hiroshima e Nagasaki foi pouco”. Essa ofensa entrou para o TT do #Twitter. Mas uma outra parte dos torcedores manifestou-se contrária ao uso dessa expressão.

Vamos recordar o significado histórico das bombas atômicas em Hiroshima e Nagasaki

No dia 6 de agosto de 1945 a cidade japonesa de Hiroshima foi atingida pela primeira bomba atômica da história da humanidade. Eram 8h15 da manhã (hora local) quando o Boeing B-29, pilotado por Paul Tibbets, atirou a bomba, resultando na morte de cerca de 140 mil pessoas.

O avião foi batizado com o nome de #EnolaGay, nome da mãe do piloto. Após afastar-se do local da explosão, o copiloto Robert Lewis observou o tamanho da tragédia e indagou:

“Deus, o que fizemos”?

Esta bomba não foi suficiente para obrigar o Imperador #Hirohito a assinar o acordo de rendição. No dia 9 de agosto, às 11h02, os #EUA atiraram a segunda bomba atômica, desta vez na cidade de Nagasaki, resultando na morte de cerca de 70 mil pessoas.

A bomba atômica, além dos efeitos materiais, também resultou em inúmeros efeitos simbólicos. Dentre eles, o nascimento da #PósModernidade. Esta “condição pós-moderna” que os filósofos identificaram ao longo da segunda metade do Século XX.

A eclosão da Primeira e da #SegundaGuerraMundial , culminando com a explosão da bomba atômica, colocou em xeque os ideais da #Modernidade. Caracterizada pela supervalorização da Razão, da democracia burguesa e do desenvolvimento tecnológico.

A morte de milhões de pessoas e a destruição de vários países, principalmente na Europa, evidenciou a “crise da Modernidade”. Algumas das questões colocadas foram: “por que a Razão é incapaz de deter a barbárie?”; “Por que o fascismo e o nazismo nasceram na Europa?”; “Este modelo de “Civilização Ocidental Cristã” deve ser a referência para a humanidade?”.

A bomba atômica desencadeou uma série de mudanças na maior parte da humanidade. Dentre elas destacamos duas: o neo-individualismo e a despolitização. Diferentemente do individualismo da modernidade (indivíduo livre e autônomo, superando o coletivismo da Idade Média e se apropriando das conquistas da Revolução Francesa), o neo-individualismo pós-moderno é caracterizado pelo descompromisso, pelo “não tô nem aí” e mais recentemente pela expressão popular: “foda-se”.

São características desse #neoindividualismo: o narcisismo, o hedonismo e o conformismo. O #narcisismo centrado no culto ao próprio corpo, atingindo uma espécie de “corpolatria”. Caracterizado pela grande ocupação de tempo na academia de educação física, exercitando os músculos e, nos salões de beleza, cuidando da estética pessoal.

O #hedonismo ocupa o principal objetivo na vida da pessoa; adota-se o lema #Carpediem, isto é, aproveite o momento. Só faça coisas que proporcionem prazer e, de preferência, prazer imediato.

O #conformismo, porque busca adaptar-se às circunstâncias, sem desejo de transformar a sociedade.

Vinculado a este comportamento, emerge a despolitização. O “sujeito pós-moderno” não participa em eleições e nem em outras formas de organização que impliquem em responsabilidades sociais e políticas; dá as costas para as grandes causas, tais como: a luta pela paz, o combate à fome, a luta contra as desigualdades sociais e econômicas.

Após 76 anos das bombas atômicas atiradas no Japão e em plena pandemia da Covid-19, somos desafiados a pensar sobre o sentido da existência humana. De acordo com os filósofos e filósofas existencialistas: o ser humano é “lançado ao mundo”, como um bebê quando nasce. É um ser imperfeito, inacabado e aberto para se fazer e refazer. Mas a autoconstrução não se faz por si só, ela também depende das circunstâncias históricas. E, na medida em que o ser humano constrói a sua própria existência, ele também deve lutar para que as circunstâncias sociais mudem para melhor.

Os filósofos e filósofas existencialistas alertam para o fato de que a existência não consiste numa longa jornada marcada pelo crescimento, pelo sucesso e pelo progresso. Também faz parte da existência as doenças, as guerras, as injustiças, o envelhecimento e a morte. Portanto, é indispensável, a luta constante contra a exploração social, o enfrentamento da angústia interior e de todo tipo de sofrimento humano.

Em suma, existir implica na relação da pessoa consigo mesma, com as outras pessoas, com a natureza, com os animais e com as coisas. Um enfrentamento constante, mas libertador e parte fundamental na construção de uma sociedade onde caibam todos e todas.

Uma sociedade que valorize a vida e a vida em plenitude.

Sugestões:

1) O estudo sobre a Pós-Modernidade é vasto. Recomendo para introdução o livro: “O que é pós-moderno”, do escritor Jair Ferreira dos Santos, da Coleção Primeiros Passos, da Editora Brasiliense.

2) Sobre o Existencialismo, corrente filosófica importantíssima no Século XX, tem uma quantidade enorme de livros, filmes, documentários, peças de teatro etc. Recomendo como introdução o livro: “O Existencialismo é um Humanismo”, de Jean-Paul Sartre.

3) Sobre a Bomba de Hiroshima, o poeta e diplomata Vinícius de Moraes não ficou indiferente! Em 1954 ele publicou o poema “Rosa de Hiroshima”, que foi musicado em 1973 por Gerson Conrad, integrante da “Banda Secos e Molhados”. Esta música foi gravada por Ney Matogrosso e entrou para a lista das 100 melhores músicas brasileiras, segundo a Revista Rolling Stone.

Trilha sonora:

Ney Matogrosso – Rosa de Hiroshima

 

Francisco José Nunes é Mestre em Ciências Sociais – PUC-SP; Graduado em Filosofia; Professor na Faculdade Paulista de Comunicação – FPAC.

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