A vitória histórica de Fernando Haddad

Por Palas Athena

Em 2018, a maioria do eleitorado subiu na embarcação de Caronte, o barqueiro mítico que leva as almas para a terra do Hades, o reino dos mortos. Elegeu um genocida, legítimo representante de tânatos, em lugar de Fernando Haddad, símbolo de Eros.

Olhando em perspectiva, foi (é) terrível termos passado por aquele inferno, cujas “sombras do mal” ainda vagam por aí. Ao mesmo tempo, creio que, para o político Haddad, foi uma experiência importante ao seu amadurecimento.

2018 obrigou Haddad a encarar a face horrenda da classe dominante do Brasil, principalmente no seu círculo de relações, a burguesia paulistana. Ele se sentiu traído. Em entrevistas, disse ter se surpreendido com o fato de conhecidos ou pessoas com quem já lidou no meio acadêmico, político e empresarial terem votado no genocida.

Naquelas eleições, Fernando Haddad perdeu a inocência, o republicanismo ingênuo. Foi obrigado a deixar mais de lado a visão rousseauniano dessa classe dominante, para vê-la numa perspectiva mais hobbesiana: o homem é o lobo do homem. Foi um duro golpe não só ser derrotado por um genocida, fã de torturador, como ter o seu mestre, Lula, preso injustamente. Haddad teve a dimensão do que essa classe dominante era/é capaz pelo poder.

Mas como a roda da fortuna gira e Nêmesis existe para fazer a justiça divina contra quem age sob a húbris, temos hoje Fernando Haddad como superministro de Lula, conseguindo vitórias históricas num Congresso hostil, conciliando os interesses do governo com o da mesma classe dominante que outrora o golpeou. Haddad aprendeu a jogar com essa malta, a negociar para conquistar, sem arroubos, sem confrontos, aos poucos.

Assume aparentemente o figurino de quem é “mercado” para fazer avançar os propósitos do governo. Formou uma equipe brilhante. Em dobradinha com Lula, é o mediador, o homem de centro, deixando o presidente livre para ser ousado, assumir o discurso progressista de esquerda. E é impressionante o entrosamento deles. É como Pelé com Garrincha na seleção, para usar uma analogia futebolística tão ao gosto do presidente. Não saem derrotados de campo.

A experiência de Haddad na Fazenda, como O nome da economia no governo, o consolida como o sucessor político de Lula. Não em estilo, é óbvio ululante, mas no nome que vai dar continuidade ao projeto de um país mais soberano, moderno. Lula está fazendo essa transição, está fincando as bases para o salto qualitativo do Brasil, agora muito mais consciente dos desafios e com muito menos ilusões sobre nossa classe dominante.

E o presidente deposita em Haddad a confiança de que terá alguém, com características próprias, competência, para levar avante esse projeto. Haddad é um intelectual, um homem sofisticado, com visão mais moderna de política, não tem o apelo popular da velha política, de onde advém Lula. Mas vai fazer seu nome na economia, aquilo que afeta mais diretamente a vida do povo. Já é conhecido e respeitado no meio educacional. Vai se constituindo como o maior nome da Fazenda de todos os tempos na história do país.

Hoje Haddad teve uma vitória histórica. Dois dias depois de perder a mãe. Como falo, justiça divina, nemesiana. Um bálsamo para a dor da perda! Para nós, é um alento também. Podemos vislumbrar que não seremos órfãos de um grande político, quando Lula passar o bastão.

Palas Athena é um pseudônimo. Nem o editor desconfia quem seja. A suspeita é que seja uma mulher de Minas Gerais. Sem outras informações.

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