O gran finale de José Celso Martinez

Por Simão Zygband

Foto de capa: Jennifer Glass

Fotos do filme 25 e do casamento 

José Celso

Claro que José Celso Martinez Corrêa é conhecido sobretudo pela sua pulsão de vida, de irreverência, de quebra de paradigmas, de valores morais.

Fez isso até outros dias atrás casando com seu companheiro José Drummond, ainda no mês passado.

Lógico que como adolescente fiquei boquiaberto e enlouquecido com as peças teatrais desbundadas do Zé Celso contracenando com o ator Marcos Nanini, por exemplo. Era a lúcida loucura representada nos palcos. Um ácido lisérgico revelado à luz da ribalta.

Mas não foram apenas as peças do Zé Celso que me encantaram e me fizeram ver que eu não era o único maluco do mundo.

Também tive a oportunidade de frequentar, mais de uma vez, as louquíssimas festas no teatro Oficina, onde desfilava a mais pura fauna da intelectualidade paulistana.

Eu, jovem, ajeitadinho, precisava me cuidar naquelas baladas noturnas no teatro Oficina. As cantadas de pessoas do mesmo sexo rolavam com naturalidade abissal. E mal havíamos entrado nos anos 80. E eu todo “certinho” segurando a ferro e fogo a minha heterossexualidade. Dava um medo danado daqueles “malucos”, que te assediavam na maior cara dura.

Bem. Mas o Zé Celso não era apenas um militante das causas libertárias, gays ou algo que o valha. Tinha um engajamento político feroz. Combateu de todas as maneiras os atrasados, os reacionários, os fascistas. Vertendo por todos os poros, podia-se dizer assim.

José Celso teve a manha de filmar na Moçambique Libertada do colonialismo. Esteve nas comemorações que se seguiram à independência daquele país africano, que através de um processo revolucionário, livrou-se de 400 anos de opressão e dominação colonialista.

No filme 25, filmado em 16mm, José Celso e seu parceiro de teatro Oficina, Celso Luccas, percorrem nas filmagens as diferentes fases da colonização, desde a invasão de Vasco da Gama até o início da conscientização descolonizadora, passando pela resistência, por massacres e pelos dez anos de guerra popular contra o exército português.

A morte do Zé Celso Martinez é muito triste. É uma perda irreparável. Mas é bem verdade que ele curtiu tudo o que pode até o último minuto da sua vida. Viveu intensamente e era feliz com o seu jeito de ser.
Teve um gran finale na vida, vitimado por um incêndio. Não merecia.
Mas será recebido no céu por todos os anjos tocando trombetas

Simão Zygband

Simão Zygband é jornalista profissional desde 1979. Trabalhou em TVs, rádios e jornais de São Paulo, onde foi respectivamente pauteiro, repórter e redator. Foi funcionário das TVs Bandeirantes, SBT, Gazeta, Record e dos jornais Notícias Populares, Diário Popular, Diário do Grande ABC , Diário do Comércio, entre outros. Foi coordenador de Comunicação no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo (onde editou o Jornal Unidade) e redator do jornal Plataforma do Sindicato dos Metroviários de São Paulo. Também fez assessoria de comunicação em campanhas eleitorais e mandatos parlamentares. Trabalhou na Comunicação de Secretaria Municipal de Transporte de São Paulo. Foi diretor da Rádio e TV Educativa do Paraná e Secretário Municipal de Comunicação da prefeitura de Jacareí, São Paulo.

 

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Em nome de Simão Félix Zygband

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