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A ressaca do dia seguinte

Sonia Castro Lopes

 

Amanheci nessa quarta feira (24) disposta a examinar as principais manchetes e editoriais que os  jornais O Globo, Estadão e Folha de São Paulo publicaram a respeito do julgamento da parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro nas condenações feitas ao ex-presidente Lula. Que pretensão, senhores! Essa  análise daria material  suficiente para desenvolver uma longa tese de doutorado. Na tentativa de recortar meu objeto de análise, limitei-me a escolher apenas um. Acabei optando pelo jornal carioca.

 

Logicamente, a tragédia da pandemia que já totaliza 300 mil mortos,  sendo que 3158 só nas últimas 24 horas, ocupa boa parte da primeira página. Mas a matéria com a notícia do julgamento de Moro não fica atrás. Eis a manchete:  “Turma do STF declara Moro parcial ao condenar Lula.” Após um breve resumo que relata a mudança de voto da juíza Carmem Lúcia ( que há três anos votou contra o habeas corpus do ex-presidente),  a notícia prossegue em outra página, quando se expressa em destaque a opinião do jornal a respeito do fato. Aí realmente se define a posição de uma imprensa que se diz isenta e imparcial, mas que, na verdade, encara com seriedade a missão de  orientar a opinião de seus leitores. O título é sugestivo: “Por água abaixo.”

 

O que o jornal deseja verdadeiramente é instalar a dúvida e o receio nas mentes e corações dos seguidores. Segue a notícia: “A decisão da turma do STF poderá ter consequencias drásticas sobre os demais processos da Lava-jato, pois qualquer réu que tenha sido julgado e condenado por Moro irá reivindicar a revisão de sua sentença”. E prossegue: ” O que será dos acordos de delação premiada? (…) Das confissões? (…) Dos milhões devolvidos aos cofres públicos? Ninguém sabe… A Lava-Jato, maior operação de combate à corrupção na história brasileira, vai indo por água abaixo.”

 

Pronto. Bastou essa pequena nota para alvoroçar o coração tanto os moristas juramentados quanto dos enrustidos. A classe média conservadora, defensora da moral e bons costumes que votou em Bolsonaro para garantir o combate à corrupção ou anulou o voto por não ver “outra opção” no horizonte político está pronta para comprar um candidato que batalhe pela mesma causa. Diante dessas derrotas, Moro já desidratou e perdeu boa parte de seu capital político. Mas não duvidem,  a mídia hegemônica encontrará um substituto à altura. A direita tem uma variedade de postulantes ao cargo, resta saber se eles emplacam. A única certeza é que virá chumbo grosso para o candidato que ousar subverter a ordem da ‘casa grande.’

 

A defesa da operação Lava-Jato feita com a ‘isenção’ que é peculiar a esse tipo de imprensa termina com a citação do texto publicado pelo procurador Deltan Dallagnol – a essa altura mais sujo que pau de galinheiro – em seu twitter.  “Os R$ 5 bi devolvidos por criminosos confessos aos cofres públicos não cresceram em árvores.” Se eu seguisse esse senhor no twitter, faria a seguinte pergunta: E os R$2,5 bi da Petrobrás  que o senhor e outros procuradores do MPF do Paraná tentaram desviar para um fundo privado da Lava-Jato, surgiram de onde? Como eu já desisti dessa rede para não me aborrecer com bolsominions, tucanos e congêneres, prefiro ficar calada, abrir mais um espumante e continuar brindando ao sepultamento da república de Curitiba.

 

Foto: Reprodução Carolina Antunes/PR

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