Por Josué Medeiros
O peso da máquina pública, usada a favor do atual prefeito, ou a postura criminosa do coach bolsonarista que ficou de fora do 2º turno, não podem apagar o principal fato do 1º turno das eleições municipais em São Paulo: a força do sentimento de mudança com os 1.776.127 votos recebidos por Boulos e Marta.
Trata-se de uma votação história, com 770 mil votos a mais do que Boulos obteve em 2020, superando, inclusive, a votação de Bruno Covas no 1º turno da eleição passada.
O mais importante é que a votação de Boulos e Marta em 2024 foi maior do que a soma dos votos em Boulos e Gilmar Tatto, candidato do PT em 2020. A unidade dos partidos em 2024 já resultou na ampliação dos votos da esquerda.
A chapa Boulos e Marta igualou a votação alcançada por Haddad no 1º turno de 2012, última vez que a esquerda conquistou a prefeitura. O quadro em 2012 foi bastante parecido com o que temos visto até aqui.
Na ocasião, a esquerda enfrentou um candidato apoiado pela máquina municipal e federal, o ex-prefeito José Serra (PSDB), que liderou no 1o turno. Mas a virada da esquerda foi impulsionada por um sentimento de mudança, que prevaleceu sobre a narrativa mentirosa de uma cidade sem problemas. As pessoas sabiam que São Paulo estava abandonada pela gestão Kassab e queriam e exigiram mais.
Naquele ano, tivemos uma outra candidatura da base do governo Lula na figura de Gabriel Chalita, do PMDB, que conquistou 800 mil votos e apoiou Haddad no 2º turno. Essa aliança, junto com a liderança do presidente Lula, reforçou o sentimento de mudança e virou o jogo na cidade.
Agora, em 2024, Boulos e Marta já receberam o apoio de Tabata Amaral, do PSB, que obteve 600 mil votos e é uma jovem liderança importante do campo progressista e da base do presidente Lula.
A vitória eleitoral que São Paulo deu a Lula em 2022 é mais um fator para impulsionar a mudança em 2024. No 2º turno ficará mais evidente para o eleitorado que Boulos e Marta são Lula e que Nunes é Bolsonaro.
Essa nitidez dos projetos vai intensificar ainda mais, em comparação com o 1º turno, a mobilização eleitoral na capital paulista pela vitória de Boulos e Marta, em defesa da democracia, dos direitos e do combate às desigualdades e da mudança que São Paulo quer e merece.
Josué Medeiros é Cientista político e professor da UFRJ e do PPGCS da UFRRJ. Coordena o Observatório Político e Eleitoral (OPEL) e o Núcleo de Estudos sobre a Democracia Brasileira (NUDEB)