Por Hugo Souza no Come Ananás
A tragédia que a última ditadura civil-militar argentina impôs à vida de Hebe de Bonafini, histórica líder das Mães da Praça de Maio, começou no dia 8 de fevereiro de 1977, com o sequestro em La Plata do seu filho Jorge, então com 26 anos de idade, e foi duplicada no dia 6 de dezembro daquele mesmo ano, quando seu outro filho, Raúl, também foi sequestrado pela ditadura, aos 24 anos, em Buenos Aires.
Nem Hebe, nem ninguém nunca mais os viu.
Em 2020, a advogada Victoria Villarruel foi chamada pela defesa de ex-agentes da ditadura argentina para testemunhar como “especialista” em um julgamento por crimes de lesa-humanidade na província de Tucumán, barbarizada pelos repressores durante o “Processo de Reorganização Nacional”. Fica em Tucumán o macabro Pozo de Vargas, vala clandestina onde os reorganizadores da Argentina desovaram mais de 100 das suas vítimas.
Em juízo, em Tucumán, Victoria Villarruel disse não ter conhecimento de que Hebe de Bonafini tivesse sido vítima da ditadura. Neste domingo, 19, Victoria, foi eleita vice-presidenta da Argentina, na chapa de Javier Milei.
Em Tucumán, Milei e Villarruel venceram com 52% dos votos. En San Miguel de Tucumán, capital da província e onde fica o Pozo de Vargas, chegaram a 60%. Na zona eleitoral 15B, nas cercanias da vala clandestina, a chapa negacionista dos crimes da ditadura argentina amealhou 10.500 votos – 57% dos 18.700 eleitores cadastrados que saíram de casa para votar.
Javier Milei e Victoria Villarruel foram eleitos presidente e vice-presidenta da República Argentina, com 55,7% do total de votos – 11 pontos de vantagem sobre o peronismo -, na véspera do primeiro aniversário da morte de Hebe de Bonafini, que se foi no dia 20 de novembro do ano passado, aos 93 anos de idade, 43 deles de luta tenaz por verdade, memória e justiça.
Na noite deste domingo, poucas horas após o povo argentino fazer o que fez, o jornal Página 12, de Buenos Aires, publicou uma entrevista com o biógrafo de Hebe, o jornalista e poeta Demetrio Iramian. Perguntaram-lhe o que diria Hebe sobre a fórmula negacionista ter conquistado a presidência do país.
Iramian respondeu que Hebe estaria enojada, e completou:
“Hebe e as Mães da Praça de Maio nos ensinaram que nenhuma batalha é vencida para sempre”.
Matéria publicada originalmente no link abaixo do Come Ananás
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