Por Sandra Russo – Pagina 12
A dolorosa maioria que votou em Milei e o nomeou presidente não sabe em que votou. É a primeira vez no mundo que um presidente anarcocapitalista vence e que vence com seus próprios discursos cruzados: eu vou fazer isso/eu não vou fazer isso. As nossas veias estão geladas: o nosso país será um laboratório fascista onde a crueldade e a estupidez serão celebradas e os quadros políticos populares serão perseguidos.
Desde a pandemia, parte da nossa saúde mental individual e coletiva mudou. Não apenas o nosso, o do mundo. Começaram por dizer que a terra era plana e acabámos com um presidente que vai romper relações com a China e o Brasil, que vai abortar os grandes projectos que poderiam dar a este país uma oportunidade de crescimento sem precedentes, que vai privatizar novamente (De novo!) os fundos de pensões, que vão desmantelar os Anses e o PAMI. E isso libertará os genocidas e justificará o terrorismo de Estado.
Nada disso teria acontecido se o jornalismo existisse. Em quatro anos, o único que os incomodou foi Sergio Massa no debate. Ele teve mais exposição do que qualquer outro economista em 2017 e 2018. Nunca o obrigaram a explicar nenhuma de suas medidas.
E também teríamos conseguido evitar esta catástrofe se Alberto Fernández não tivesse jogado sozinho, isolado dos seus aliados, e sem ter honrado o seu compromisso eleitoral com estes últimos. O dano foi enorme.
Este país está quebrado. Eles quebraram a continuidade da memória histórica. Eles quebraram a moralidade da maioria da sociedade, que diz detestar a corrupção e votar em um cara que vendeu candidatos.
Permito-me esta desolação esta noite, como todos devemos permitir-nos esse abismo para o qual olhamos, porque em Milei e nos seus seguidores vemos violência e brutalidade. Mas amanhã, como noutros tempos, como sempre, terá início a tarefa de enxugar as nossas lágrimas e construir uma sociedade civil resistente aos abusos e ao totalitarismo. As pessoas cometem erros. Hoje a Argentina, e digo isto sem hesitação mas com imensa tristeza, cometeu um erro.
Saudações aos neutros
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Repercussão no Brasil
Disposição
A democracia é soberana e o processo eleitoral sempre deve ser respeitado. Esperamos que o governo de Javier Milei esteja disposto a cooperar e trabalhar junto ao Brasil em prol de um futuro próspero para a América do Sul.
Gleisi Hoffmann- presidenta do PT
Vida difícil
A partir de 10 dezembro, os argentinos vão experimentar durante quatro anos o que o Brasil experimentou até o ano passado.
Com uma diferença, entre tantas outras: não há na Argentina um Alexandre de Moraes.
Agora, fecha-se o cerco do Judiciário a Cristina Kirchner.
A Justiça será protagonista da política Argentina, como foi aqui com o lavajatismo. Será difícil a vida dos peronistas e de todas as esquerdas.
Moisés Mendes- jornalista
Luto
Javier Milei venceu a eleição para presidente na Argentina. É uma vitória da ultradireita e do fascismo, justamente quando o país vizinho completa 40 anos de democracia desde o fim da ditadura militar, responsável pelo desaparecimento de 30 mil pessoas.
Jorge Antonio Barros – jornalista e editor do Quarentena News

Arte: JAB