A banalidade da miséria no Rio

Por Antônio Soares  (texto e fotos)

Quando detectou que toda a crueldade do criminoso de guerra Adolf Eichman se escondia sob a fachada de um eficiente funcionário da máquina de eliminação nazista, Hanna Arendt descobriu o que chamou de a “banalidade do mal”, um conceito que causou polêmica. Mas todos nós, humanos, somos capazes, sim, de nos acostumar às piores coisas, e até de criar justificativas para o mal, sobretudo quando não temos empatia com ninguém e não estamos na pele dos que sofrem. Nascido e criado no Rio de Janeiro, estou vivendo há alguns meses em Glasgow, uma cidade de quase 2 milhões de habitantes, na Escócia.

Ao flanar pelas ruas de Glasgow temos a sensação de respirarmos a história da velha Escócia com suas austera arquitetura misturada com a modernização da cidade. Um povo amável e polido no trato. No centro de Glasgow, temos pedintes nas ruas sujas com papéis e guimbas no chão. Os mendigos lá possuem abrigo, caso contrário morreriam ao frio relento; mas não são muitos como aqui. Em Bearsden, onde moro, não há mendigos e nem pobreza.  Ao chegar ao Rio, é impossível não se sentir aviltado com o tipo de miséria que se espalhou pela cidade, sobretudo durante a pandemia. O Centro da cidade então talvez viva a sua pior decadência, com lojas fechadas, prédios inteiros praticamente abandonados e as ruas e praças tomadas pela população de rua. Aqui não existe o mínimo de suporte do estado. Voltar ao Rio, ainda que de passagem, e deparar-me com essa miséria me permite entender melhor aquela piada de que a saída do Brasil é o Aeroporto do Galeão.

FOTOS: Três instantâneos do Centro do Rio pós-pandemia e um de Glasgow (Escócia)

*Antônio Soares é professor da UFRJ.A matéria foi publicada originalmente no QUARENTENA NEWS

         

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

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