Por Roberto Garcia
A decisão do Supremo Tribunal mudou o Brasil. Foi uma daquelas gotas que entornam o caldo. Virou os cálculos políticos de cabeça prá baixo. Lula sai dos processos a que ele foi sujeito nos últimos anos como herói. Sergio Moro, o juiz que o condenou, sai como bandido.
Se foi pego de surpresa e ainda não entendeu, não fique preocupado. Você não está sozinho. Se quer o resultado simples do que aconteceu basta uma linha. Lula era corrupto, culpado, condenado, ficha suja, ex-presidiário, devia até voltar para a cadeia. Agora não é mais nada disso. Ele era inocente, foi vítima de uma grande armação. O juiz de Curitiba e os procuradores da lava-jato é que fizeram a marmelada. Saem dessa lambuzados.
Os detalhes jurídicos do que acaba de acontecer vão ser desfiados por mil advogados e juristas. Para nós, que não somos nem uma coisa nem outra o que importa é a consequência política. Lula poderá concorrer, se quiser, nas eleições do ano que vem. Moro que por uns tempos até era visto como forte candidato está mais sujo que pau de galinheiro. Não leva mais uma chance. E os demais candidatos, que já andavam mambembes, foram jogados ainda mais para trás. Agora a disputa será entre Bolsonaro e Lula.
Toda disputa política é imprevisível. Não se sabe o que pode acontecer daqui até o fim de 2022, quando o povo será chamado a votar. Mas desta vez a partida não será tão fácil. É que o capitão Jair Messias anda meio desprestigiado. A única acusação que não se pode fazer a ele é de competência. O rapaz deu errado em tudo. Na saúde, na economia, na educação, na política externa. Difícil ver com quantas fichas ela ainda pode contar. Não são muitas.
Certamente vai haver um ajuste de contas. O juiz e os procuradores de Curitiba vão ser denunciados, podem parar no banco dos réus. O pessoal que se agarrou a eles achando que eram a salvação da república vai baixar a cabeça. Os mais barulhentos vão ter que se esconder.
E Bolsonaro, como fica nessa? Na verdade, ele é o resultado da lava-jato. Foi essa operação quem criou o clima que levou diretamente à eleição dele. Ele e Moro andaram abraçados. Cai um, o outro fica de pé? E os partidos políticos que o apoiavam? Agora, ficar com Jair é mais perigoso politicamente do que vírus da covid.
Prá que ir ao futebol, ao cinema, à telenovela? Agora tem um espetáculo mais divertido. E o nosso futuro pode estar em jogo.
Roberto Garcia é leitor e seguidor do Construir Resistência.
Foto: Reuters/Adriano Machado
