Por Alex Solnik
Arte não é guerra. Não é filme contra filme. Não é atriz contra atriz. “Ainda estou aqui” e “Emilia Perez” são filmes muito bons, ótimos, tal como Fernanda Torres e Karla Sofia Gascón.
Fernanda faz, com rara inspiração, uma mulher que emociona e hipnotiza plateias; Sofia faz um homem e uma mulher, também com maestria.
As duas são excelentes. Os dois filmes são extraordinários. Tanto é que nenhum filme brasileiro foi indicado a três Oscar antes e nenhum filme não falado em inglês recebeu 13 indicações.
Há 10 mil cabeças na Academia do Oscar. Seja qual for a escolha final, nem um filme nem o outro, nem uma atriz nem a outra serão derrotados.
Ou sairão menores que o outro. Já são vencedores. Já conquistaram corações, bilheterias e prêmios em todo o mundo. Só têm a fama que têm porque são reconhecidos como obras de arte.
Um diretor francês (Jacques Audiard) fazer um filme falado em espanhol da América Latina é uma homenagem, não desrespeito.
Não importa se um ator ou outro fala com sotaque. Raramente um cineasta abre mão do seu idioma. Sobretudo um cineasta francês!
Ele é a grande revelação do cinema francês pós-nouvelle vague e seu filme tem raízes no antológico e também premiadíssimo “Les Parapluies de Cherbourg”, de 1964, Palma de Ouro em Cannes, direção de outro Jacques – Jacques Demy – e que lançou Catherine Deneuve na cena internacional.
Tal como aquele, um musical envolvente, muito bem cantado e coreografado, mas fora dos padrões de Hollywood.
Walter Salles é um cineasta refinado e sensível que chegou ao auge com “Ainda estou aqui” e quem diz não sou apenas eu, mas a crítica e o público.
Ele e Fernando Meirelles são os nossos dois cineastas internacionais. Ambos extraordinários!
“Ainda estou aqui” e “Emilia Perez” devem ser saudados e aplaudidos de pé como dois marcos do cinema que, falados em português e em espanhol estão sendo abraçados calorosamente pelo mundo em que predominam filmes em inglês.
Tanto “Ainda estou aqui” quanto “Emilia Perez” merecem o Oscar de melhor filme estrangeiro. Tanto Fernanda Torres quanto Karla Sofia Gascón merecem o Oscar de melhor atriz.
Quem é melhor: Van Gogh ou Picasso? Se houvesse votação, um deles teria mais votos que outro – arte é uma questão de gosto – mas ambos continuariam sendo os mestres que são.
Com Oscar ou sem Oscar.
Alex Solnik é jornalista, autor de “O dia em que conheci Brilhante Ustra” (Geração Editorial)