Por Simão Zygband
Claro que pode ter sido uma mera coincidência e tudo leva a crer que sim.
Mas o polêmico prefeito de Rio do Sul (SC), José Thomé, cidade do chaveiro, Francisco Wanderley Luiz, também conhecido como Tiü França, que morreu ao promover uma explosão na praça dos Três Poderes, nas proximidades do Supremo Tribunal Federal (STF), estava naquele momento em Brasília.
Ambos, é verdade, são bolsonaristas raiz. Poderiam até não se conhecer, apesar de Francisco ter sido candidato a vereador pelo Partido Liberal (PL), o mesmo de Jair Bolsonaro, em Rio do Sul.
José Thomé, pertencente ao PSD, partido totalmente ligado ao bolsonarismo, disse à imprensa local que “ficou surpreso e assustado” ao saber que o veículo carregado de explosivos, acionado por um homem que morreu na explosão em frente ao STF, pertencia a um morador da cidade.
Polêmico
O prefeito é um homem polêmico. Está em seu quarto mandato à frente da administração municipal e foi considerado um dos prefeitos mais bem remunerados do Brasil, apesar de Rio do Sul ter apenas 73 mil habitantes.
Seus opositores o acusam de enriquecimento ilícito, de ter amealhado uma fortuna de R$ 2,5 milhões.
É um habitual cobrador para si de polpudas verbas de viagens como esta realizada à Brasília.
Ele disse ter ido ao Distrito Federal a título de obter recursos do governo para a reconstrução de pontes danificadas nas enchentes que assolaram o sul do país, inclusive Santa Catarina.
Uma coincidência.
Homotransfobia
Para azar do prefeito, a explosão ocasionada por um cidadão de sua cidade no momento que ele estava em Brasília, abriu holofotes sobre um vergonhoso incidente.
Ele é investigado pelo Ministério Público de Santa Catarina em inquérito que apura se feriu a laicidade do Estado, realizou censura e teve atitude de homotransfobia.
O incidente aconteceu quando José Thomé proibiu a realização do festival Transforma, evento LGBTQIA+, que seria realizado na fundação cultural da cidade, ligada à prefeitura.
O festival, programado para ocorrer entre 27 e 28 de março, contava até com o apoio financeiro do governo de Santa Catarina e promoveria, entre outras atividades, a exibição de filmes com a temática LGBTQIA+.
A iniciativa, realizada pela Associação em Defesa dos Direitos Humanos com Enfoque na Sexualidade, já havia passado por diversas cidades catarinenses como Joaçaba, Curitibanos, Jaraguá do Sul e Laguna, sem nunca ter causado nenhum incidente.
Ao justificar a negativa, o prefeito questionou o teor artístico do evento, dizendo não ter “relação com preconceito”.
“É uma questão de respeito aos princípios cristãos, daquilo que está escrito na Bíblia, e dos princípios da família, como pai de dois filhos, menores de idade, que poderiam, inclusive, participar dessa apresentação, porque a classificação livre, veja bem, tratando de questões de homossexualidade, portas abertas, eu não posso permitir isso”, disse, em vídeo divulgado nas redes sociais.
O prefeito ainda afirmou não admitir que o poder público seja incentivador da “prática” em prédios público.
Pelo episódio, a deputada federal Erika Hilton (PSOL) ingressou com a representação no Ministério Público por LGBTfobia contra o prefeito José Thomé.
A explosão
Segundo consta, José Thomé estava em Brasília, acompanhado de uma comitiva, em visita aos ministérios. Segundo o prefeito, nem ele nem membros de sua equipe viram ou estiveram com Francisco Wanderley Luiz.
– Ninguém viu ou soube que ele estava aqui – afirmou.
Ele disse que o grupo de Rio do Sul havia deixado o prédio do Senado cerca de 30 minutos antes das explosões.
O chaveiro de 59 anos Francisco Wanderley Luiz resolveu ir até Brasília para explodir seu veículo na frente do Superior Tribunal Federal.
Segundo informações, ele havia vistoriado antes os prédios da Câmara dos Deputados e do próprio STF.
Ele morreu na explosão, mas tinha deixado mensagens na sua rede social informando que iria fazer o atentado no início da noite de quarta-feira, 13.
Ele tinha sido candidato a vereador em Rio do Sul pelo PL nas eleições municipais de 2020, mas recebeu apenas 98 votos e não conseguiu se eleger.
O seu ato ajudará certamente a impedir que o Congresso conceda anistia a Bolsonaro e seus golpistas, responsáveis pelo clima de beligerância existente no país, sobretudo após a vergonhosa tentativa de golpe de 8 de janeiro, com depredações e danos ao patrimônio público.
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Simão Zygband é jornalista e editor do site Construir Resistência
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