Por Simão Zygband
Não que em algum momento eles a tivessem, mas definitivamente, depois da tragédia política dos quatro anos de bolsonarismo, agregados aos dois anos de Temerismo (outro obscuro personagem), fez com que os fascistas perdessem de vez a vergonha.
Agora não se dão ao trabalho de nem fingir. Tornam públicos os seus grotescos pensamentos, quando não expõem as suas cavernícolas atitudes. O troféu Escravocrata do Dia vai desta vez para o Centro da Indústria, Comércio e Serviços de Bento Gonçalves (CIC-BG) que responsabiliza os programas sociais como o Bolsa-Família, para justificar que associados da entidade utilizem mão de obra “análoga” à escrava na produção vinícola do município gaúcho.
A entidade credita aos programas sociais a falta de mão de obra e a necessidade de investir em projetos e iniciativas que permitam minimizar este grande problema (sic): “Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade. É tempo de trabalhar em projetos e iniciativas que permitam suprir de forma adequada a carência de mão de obra, oferecendo às empresas de toda microrregião condições de pleno desenvolvimento dentro de seus já conceituados modelos de trabalho ético, responsável e sustentável”, diz a nota sem nenhum escrúpulo.
Caros empresários de Bento Gonçalves. O Brasil demorou séculos para tentar se livrar da escravidão (e às vezes dá a impressão de não ter sido bem sucedido) e outras centenas de anos para modular conceitos e procedimento que garantissem o mínimo de direito aos trabalhadores.
É claro que estas convenções coletivas de trabalho e as garantias trabalhistas sempre incomodaram os capitalistas, que preferem acumular riquezas a perder um pouco do seu lucro para proporcionar melhores condições de vida aos trabalhadores.
Isso os jogou no colo do bolsonarismo, eles mesmos francos apoiadotes. Mas é claro que isso não se restringe aos empresários gaúchos, mas à maioria dos grandes e alguns médios empregadores brasileiros.
A nota da CIC é vergonhosa. Trabalho escravo é indefensável em qualquer hipótese. Isso é fruto, evidente, da política (ou a falta dela) de Jair Bolsonaro e Paulo Guedes, que praticamente reconduziram uma parcela dos trabalhadores aos grilhões, quando não os mataram de fome por más condições de trabalho e salários. Que os digam os prestadores de serviço para plataformas do tipo Ifood e congêneres.
Tudo isso vai se transformando em um gigantesco desafio para o governo Lula, que entre tantos problemas, terá que lidar com empresários cuja mentalidade nunca saiu do período feudal, mas que agora colocam em prática este tipo de pensamento.
O Troféu Escravocrata do Dia vai para a CIC de Bento Gonçalves, apesar de sempre contarem com uma concorrência feroz para ver quem é mais FDP.