Por Simão Zygband
Fui o primeiro pauteiro do telejornalismo do SBT. Tive a honra e o privilégio de trabalhar na emissora do Senor Abravanel, o Silvio Santos, que hoje nos deixou aos 93 anos.
Confesso que nunca o vi de perto. Naquela época, final dos anos 80, ele vivia mais nos EUA do que no Brasil. Quando adentrava a emissora, ainda localizada na Vila Guilherme, na zona Norte paulistana, o máximo que me aproximei dele era de seu carrão branco que ficava estacionado no estacionamento do SBT.
Silvio Santos é a mistura explosiva que deu certo. Judeu de ascendência grega, tinha a leitura da alma do povo brasileiro, o que o transformou no maior comunicador de televisão de todos os tempos. Com sua simpatia conquistou fortuna. Pensamento rápido, ligeiro, muitas vezes grotesco, fazia o povo rir. Fosse ele de que classe social pertencesse. Jogue a primeira pedra quem nunca assistiu um de seus animados programas de auditório.
No SBT, tive o meu primeiro emprego na TV, depois de muitos anos trabalhando no impresso. Era inesquecível ter que trabalhar aos domingos, sozinho na redação, produzindo a pauta de segunda-feira, com o telefone tocando incessantemente de pessoas que queriam participar do programa do Silvio, que acontecia em um estúdio nas proximidades.
Também era impagável percorrer os corredores e dar de cara com o Bozo, com a Mara Maravilha ou com as dançarinas em seus vistosos maiôs. Experiência impar. Ali ocorria a tal da Geleia Geral Brasileira. Tinha de um tudo, todos os tipos e todas as cores.
Ajudei a produzir os primeiros noticiários do SBT: o Noticentro e o Cidade 4. Eram um mix de jornalismo com entretenimento, bem a cara da emissora. Tinha o inesquecível Felizberto Duarte, o Feliz, como o Homem do Tempo (piriri pororó) e as matérias mais leves e com ar descontraído. Mas gozávamos de total liberdade: Silvio Santos jamais interveio no Departamento de Jornalismo, mesmo que não gostasse de determinada matéria.
Podíamos entrevistar um conservador como Yves Gandra Martins falando de um mesmo assunto, fazendo o contraponto com o sindicalista Jair Meneghelli, amigo do Lula. Este contraditório, utilizado em parte das reportagens, fez com que o Ibope chegasse a 10 pontos nos jornais, algo difícil de atingir em uma emissora com pouco tempo de existência (fora herdeira da TV Tupi), inclusive nos dias de hoje.
Podíamos (e tínhamos total liberdade) de fazer o contraponto entre a direita, a esquerda e o centro. Jamais fomos repreendidos, fosse o entrevistado que fosse. Mesmo sabendo que Silvio Santos não “gostava de jornalismo”.
Mas, como homem de negócios, ele descobriu rapidamente que produzir notícias, se não fosse o segmento mais rentável da emissora, era ele que dava “lustro” na imagem popularesca da TV. E assim ele decidiu investir nos noticiosos Aqui Agora e Jornal do SBT.
Creio que Silvio Santos é inigualável como homem de televisão. Uma espécie de Edson Arantes do Nascimento (Pelé) da TV brasileira. Difícil será substituí-lo, com tamanho carisma e talento.
O Brasil te reverencia, Silvio Santos!
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