Por Laurie Anderson
Quando sua morte estava iminente, Lou saiu do hospital e voltou para casa. Como meditadores, tínhamos nos preparado para isso, como mover a energia do ventre, colocá-la no coração e daí para fora através da cabeça. Nunca vi uma expressão tão fascinada como a que Lou tinha enquanto morria. Suas mãos estavam fazendo o movimento 21 de Tai Chi, o movimento da “água que flui”, seus olhos estavam muito abertos. Segurei nos meus braços a pessoa que mais amava no mundo, e falei com ele enquanto morria. O coração dele parou. Ele não tinha medo. Consegui caminhar com ele até o fim do mundo. Pude ver a vida “Tão bela, tão dolorosa e deslumbrante” na sua máxima expressão. E a morte? Acredito que o propósito da morte é a libertação do amor.
Neste momento, estou totalmente feliz. Estou muito orgulhosa da forma como ele viveu e morreu, da sua incrível força e da sua graça.
Tenho certeza de que ele voltará ao meu sonho e que neles parecerá estar vivo de novo. E de repente percebo que estou aqui sozinha, de pé, maravilhada e agradecida. Que estranho, emocionante e milagroso é o fato de termos podido nos ajudar um ao outro a evoluir, que tenhamos podido nos amar tanto através das nossas palavras, da nossa música e da realidade das nossas vidas.”
NOTA: Trecho do artigo que Laurie Anderson, esposa e amiga de Lou Reed, escreveu sobre o adeus ao músico para a edição norte-americana da revista “Rolling Stones”.