Por Milly Lacombe – Colunista do UOL
Assim como o nazismo é uma estética política e também a política como estética, já ensinou o professor Michel Gherman, talvez a derrota do nazismo se construa também como estética.
Michelle Bolsonaro, caída ao chão de joelhos enquanto três dúzias de fanáticos entoam um Pai Nosso em frente ao Alvorada e Jair se mantém de pé na perfeita imitação de sua própria estátua de madeira; a estética de derrota.
Uma estética que tem no bolsonarista grudado ao para-brisa do caminhão e vestido em camisa amarela outra simbólica representação do fracasso.
O fiasco de um golpe, o malogro da crueldade, a ruína de um projeto nazi-fascista de Brasil.
O fim de um governo desumano, perverso, sinistro, funesto, aterrador, tétrico, tenebroso, macabro.
Acaba aos prantos e de joelhos na grama do Alvorada.
Termina curvado em lágrimas tendo na mulher que derrete ao chão a perfeita representação do que chamam de fraquejada e no homem que permanece em pé vestido como um defunto a simbologia daquele que, ao menos, não se colocou em posição de prece frente ao séquito de fanáticos.
A imagem dos restos mortais dos sem caráter, dos sem alma, dos sem espírito.
Arrastando-se pela grama a partir do palácio para, calados, se arriarem diante de uns poucos que berravam coisas sem sentido, cantavam músicas que pediam por Deus e repetiam palavras de ordem.
Coloridas cadeiras de praia vazias entre eles e alguns lunáticos completavam a pintura mórbida.
Tudo em Michele e Jair cheira decadência e deterioração.
Estão com a textura de uma decomposição pública, cadáveres que se arrastam lentamente de mãos dadas pela grama, destinatários de tudo o que semearam e que agora volta como um bumerangue sobre suas cabeças.
O fim do atual governo produz imagens fortes e eloquentes.
É a estética do apodrecimento.
É a pulsão de morte que tanto promoveram representada em corpos que ainda se movimentam, mas que já não emitem mais sinais vitais.
Jair, o zumbi político, terá agora que encarar juridicamente suas ações nos últimos quatro anos – ou mais.
Quanto a Michele, vamos ter que esperar para ver o que tem pela frente: se segue caída e humilhada aos pés do marido e enfrenta destino semelhante ou se decide, quem sabe, contar um pouco do que viu e ouviu.
Texto publicado originariamente no link do UOL