Por Gilson Ribeiro Oliveira
Conheci Raul Santos Seixas, por acaso num bar alternativo no Bexiga em São Paulo numa madrugada. Ele já era um mito, até para mim, que quando comprei seu clássico álbum de vinil, “Krig-Ah, Bandolo!”, ainda adolescente, pirei! Ele, por incrível que pareça, lembrou de mim, das reportagens da TV Globo. Corria o ano de 1980. Ficamos amigos. Eu também, na época, era do Balacobaco. Em 1981, ele já com fama de faltar em shows, iria fazer uma apresentação no Clube Juventus, na Mooca. Fui convidado pelos promotores de ser um tipo de “mestre de cerimônia”. Com um pequeno cachê, mas aceitei, por saber que tal evento entraria, no mínimo, para minha história. Nove da noite estou lá. A banda, sem ele, tinha feito a passagem de som de tarde. O Rick, acho, preocupado. Sabia que estava no Hotel Excelcior, Av. Duque de Caxias, centro de São Paulo. Pois bateu meia onze e meia, nada do Raul. Não tinha celular na época. Uma banda iniciante, não me lembro qual, já tinha feito a sua apresentação. Ligamos para o hotel. Pedimos para ligar para o quarto. Ele atende naquele estado. Subo no palco para tentar acalmar o público, que me joga copos de plástico e homenageiam a coitada da minha mãe D.Sarah, que com o momento, com isso, não tinha nada. A produção arruma um carro e me pede para buscá-lo. Fomos voando. Chego lá, ponho ele no chuveiro. Ele veste uma calça vermelha e seu clássico casaco de couro preto, sem camisa. Chega lá, bebe no gargalo uísque e entra. A plateia vai ao delírio. Ele capenga, praticamente só inicia as canções. Tipo…” Eu nasci…” E o coro em uníssono …” a dez mil anos atrás…”. E por aí foi. Deu tudo certo, inacreditável. Três da madrugada, o deixo no hotel e vou para a noite, ainda tenso. Essa foto, do meu acervo pessoal, não desse show, foi um outro que o pagaram com um cheque sem fundos. Ele era danado, mas também foi muito usado e explorado. Tem essa. Na fé. Até. Saravá.
Gilson Ribeiro Oliveira é jornalista. Foi repórter das TVs Globo e Bandeirantes, entre outras.
