Construir Resistência
Haddad debate

Fernando Haddad sobrou no debate da Band

Por Simão Zygband

 

Assisti o quanto pude ao debate de ontem à noite na TV Bandeirantes. Não por que mudei de canal para assistir ao show de comemoração dos 80 anos do Caetano Veloso, que passou exatamente no mesmo horário em que os candidatos ao governo de São Paulo mostravam as suas ideia em relação a governar o maior estado do Brasil, mas por que se trata de um modelo ultrapassado de programas, que dá voz a candidaturas toscas e insignificantes, que participam apenas para ser instrumentos de outras candidaturas de direita. E é difícil ouvi-los por gigantescos 4 a 5 minutos. Ninguém merece. Prefiro nem mencionar seus nomes pois devem voltar ao anonimato de onde jamais deveriam ter saído.

Sei que a Justiça eleitoral não permitiria isso, mas deveriam debater apenas os candidatos que ultrapassem os 5% de intenções de votos. Não é possível que assaquem contra candidatos com possibilidade real de vitória e nem lhe seja garantido o direito de resposta. Em alguns casos, deveriam ser solenemente ignorados, para que se mantenham na sua insignificância.

Fernando Haddad, o candidato do PT que proporcionará um dos palanques ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, se mostrou o mais preparado. Não se trata de um mero “puxasaquismo”. Tradicionalmente assisto aos debates com olhar crítico, seja por interesse profissional e jornalístico, e não teria dificuldade nenhuma em dizer que ele não teria se saído tão bem como foi ontem neste primeiro desafio de campanha.

Haddad, que já foi prefeito de São Paulo, tem ganho cada vez mais experiência nos debates. Teve uma participação complicada quando perdeu a sua reeleição para o então candidato a prefeito, João Doria e já apresentou enorme avanço quando, em condições muito adversas, teve mais de 47 milhões de votos na disputa presidencial contra Bolsonaro.

O candidato do PT, naquela ocasião, fez tudo que estava dentro da sua capacidade para ser feito e atingiu o limite do possível, em situação complicada, até por que o atual ocupante da cadeira presidencial fugiu aos debates, escudado por um suspeito episódio de ataque a faca, onde pode se vitimizar sem se expor ao debate público.

Desta vez, entretanto, Haddad pareceu ainda mais preparado e já conhecendo de antemão que tipos de ataques sofreria. Teve um candidato, que nem sei o nome e não me preocuparei em pesquisar, disse que Haddad era do partido do “ex-presidiário” Lula, o típico argumento rasteiro de um ignorante que estava no debate apenas para se prestar a este papel.

Haddad entrou focado sabendo que apenas outros dois candidatos terão alguma chance de disputar com ele um eventual segundo turno. Um deles é o “forasteiro” Tarcísio de Freitas, que deverá carregar um caixão gigantesco, pois além de não ser do Estado, ainda terá a incumbência de dar palanque para Bolsonaro. “Vai no google e digita genocida. Vocês vão ter uma surpresa também para saber quem matou mais de 600 mil brasileiros por não ter comprado a vacina quando ela lhe foi oferecida. E pior, que isso, foi cortar o auxílio emergencial antes de vacinar as pessoas. Vocês são responsáveis pela crise sanitária que estamos vivendo”, argumentou Haddad. O candidato bolsonarista terá a seu favor a máquina federal trabalhando por ele.

O outro com alguma chance real de dar trabalho é o atual governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, candidato da máquina estadual. Tem facilidades por conseguir com isso realizar conluios com os prefeitos do Interior, mas também carrega um outro caixão de dimensões gigantescas, pois é o sucessor do detestado ex-governador João Doria, um péssimo exemplo de gestor público, que fugiu da raia quando viu suas pretensões de candidatura presidencial escorrerem pelo ralo.

Haddad, não apenas colou o fantasma de João Doria em Rodrigo Garcia, como mostrou que ele apresentava dados falsos sobre o desempenho de seu governo. Disse que Doria havia terminado hospitais que o petista tinha deixado apenas o esqueleto. “Fake news não vai funcionar”, respondeu Haddad. “Os paulistas não moram na propaganda do PSDB do Rodrigo Garcia e do João Doria”.  Fez questão ainda de se mostrar contra a privatização da Sabesp (não se privatiza serviços essenciais, como ocorreu com a eletricidade), mas concorda que se faça com as empresas públicas não estratégicas.  Mostrou pleno domínio dos números e das obras que estão em andamento em São Paulo (só foram retomadas há alguns meses antes das eleições, disse ele) e prometeu elevar o salário mínimo paulista a R$ 1.580.

Haddad disse, ainda, que outro objetivo de sua gestão será retomar ” as oitocentas obras paradas” no estado de São Paulo: “Tem obra que era para ter sido entregue na Copa 2014 (…) O que está acontecendo no estado de São Paulo não é nada normal. O investimento no quadriênio 2011-2014 foi de R$ 196 bilhões. No quadriênio 2014-2018 foi de R$ 70 bilhões. Nesse período, o governo aumentou imposto de leite, de carro usado, confiscou a aposentadoria do professor e o investimento não vai chegar R$ 50 bilhões. Tem alguma coisa muito errada acontecendo no estado de São Paulo”.

Haddad conseguiu dar todos os recados e tem grandes chances de vencer as eleições

 

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